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Prelúdio do Zé Lino

Por Carlos Heitor Cony

José Lino Grünewald, poeta e critico de vanguarda, está escrevendo e publicando, em um jornal carioca, uma das melhores coisas - se não a melhor – que já se fez em materia de música popular brasileira. Dotado extraordinariamente para a apreensão e a análise, honesto no apoio histórico, e sobretudo, um criador, a seria intitulada «Prelúdio ao IV Centenário» que vem publicando já se firmou e confirmou não apenas entre os especialistas, mas entre o povo.

Poucos escritores estariam tão bem dotados quanto Zé Lino para esta série. Amante, quase fanático, de nossa música popular, uma cultura adestrada em ensaios e em leituras nobres, homem habituado ao debate e à pesquisa cultural em suas diferentes modalidades, traz José Lino Grünewald para a nossa incipiente história da música popular um padrão universal e maior. Não é o palplteiro bem intencionado que, da admiração babosa por um autor, uma fase ou uma música, envereda para o gênero, e, com o tempo, passa a se constituir em «crítico». Tão pouco é o curioso. Há tempos indo em sua casa, na boa companhia dos fratelli Campos aí de São Paulo, tive o prazer de ouvir os nossos grandes clásslcos da música popular, em suas gravações originais.

Todos sabemos que Almirante possui o malar arquivo, o maior documentário do gênero. Mas Almirante fincou-se propositadamente nesta especialidade : o testemunho, o fato, a história. Comprometido com o próprio desenvolvimento da nossa música popular. Almirante teve escrúpulo em enveredar pela crítica. Registra, cataloga, informa. Evidente, todos os que estudam o gênero têm como ponto de partida o velho Almirante. Não é apenas um exemplo de dedicação e trabalho. É um modelo de honestidade profissional e artístlca.

Tirante o criador de «Touradaa de Madri», entramos no vácuo. De uns tempos para cá surgiram muitos «criticos». Mas de uma forma geral, esses criticos estão todos corrompidos pelo amor da polêmica. Trazem, em si, seus pontos de vista antagônicos sobre velha guarda e bossa nova, dividem-se em campos e em batalhas que às vezes alcançam repercussão mas que em nada contribuem para a história e para a verdadeira crítica. Zé Lino, imune às paixões, aceita com igual amor todas as fases de nossa música popular, pois, intelectual maior que é, compreende que a expressão popular é legítima em si mesma, por definição. De Anacleto Medeiros e Patápio Silva a Tom Jobim e a João Gilberto, o poeta Zé Lino delineia e conceitua um mural que aos poucos vai-se tornando imponente e definitivo.

Seus estudos sobre Vicente Celestino, sobre Orlando Sllva, sobre Benedito Lacerda, Ary Barroso, Eduardo Souto - aí estão, formando um patrimônio cultural que se assimila ao nosso processo nacional. Não se pode dissociar a música popular de nossa cultura. E Zé Lino, com o peso e o respeito de seu nome Já firmado em militância intelectual das mais sérias e respeitáveis deste país, dá o toque de maioridade ao nosso ensaio sobre música popular.

Já temos alguns livros sobre o assunto. Ainda recentemente, Ari Vasconcelos publicou, pela Martins uma historia em dois volumes. O valor de seu trabalho é obvio. Biografias, discografias, agrupamentos por fases e tendências, fazem do "Panorama da Música Popular Brasllelra" uma obra excelente.

Mas a preocupação de Zé Lino não é fazer historia. Nem tampouco documentar ou registrar. Sua finalidade é sintonizar a força de nosso cancioneiro popular com todo um complexo cultural em formação. Quando Zê Lino destaca alguns versos de Orestes Barbosa ou de Luís Peixoto, um trecho musical de Pixlnguinha ou de Ismael Sllva, está acentuando alguns momentos importantes de nossa criação artística, captada em suas nascentes mais autênticas: o povo.

Aqueles que conheciam e admiravam Zé Lino Grünewald de seus ensaios sobre Bergman ou sobre Resnais, de seus poemas concretos, de suas traduções de poetas e ensaístas de vanguarda, não têm do que se admirar. E podem desde já esperar por outras manifestações iguais. Acredito que Zé Lino muito em breve sairá por aí a reabliltar alguns gêneros malditos da arte, como a ópera e a opereta.

E, desde já, o seu «Prelúdio ao IV Centenário» marca um momento decisivo na história de nossa arte popular: poetas desprezados pelas elites, músicos desprezados pelos eruditos, têm agora a reabilltação e o carisma desta série de ensaios que recomendo aos editores interessados em libertar o Brasil de seus complexos coloniais. E para isso, nada ajudará tanto quanto o conhecimento e o amor dos nossos poetas e músicos populares.

Folha de S.Paulo
26/05/1965

 
Poesia
Estado de Minas 10/09/1961

Eruditos & eruditos
Carlos Heitor Cony Correio da Manhã 28/09/1963

Prelúdio do Zé Lino
Carlos Heitor Cony Folha de S.Paulo 26/05/1965

A contracultura eletrônica
Jacob Klintowitz Tribuna da Imprensa 18/05/1971

Transas, traições, traduções
Carlos Ávila Estado de Minas 02/12/1982

Escreve poemas, traduz Pound, é crítico de arte e é de Copa
Vera Sastre O Globo 03/10/1983

O brilhante esboço do infinito jogo de dados
Nogueira Moutinho Folha de S.Paulo 09/12/1984

Diário das artes e da impensa
Paulo Francis Folha de S.Paulo 12/01/1985

Igitur, um Mallarmé para iniciados
Salete de Almeida Cara Jornal da Tarde 08/03/1985

Grünewald traduz Ezra Pound
Jornal do Brasil 12/03/1985

O grande desafio de traduzir Pound
Sérgio Augusto Folha de S.Paulo 16/03/1985

O presente absoluto das coisas
Décio Pignatari Folha de S.Paulo 06/09/1985

Ezra Pound - entrevista
Gilson Rebello Jornal da Tarde 26/10/1985

Pound, traduzido. Uma façanha ou loucura?
Isa Cambará O Estado de São Paulo 05/12/1986

J. Lino inaugura forma de pagamento
Ângela Pimenta Folha de S.Paulo 07/12/1986

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