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Escrever, o verbo intransitivo

Por Paula Glenadel

Ano passado a polêmica em torno da poesia concreta. Este ano, a comemoração dos 30 anos do movimento. E o lançamento de Escreviver, de José Lino Grünewald, poeta, jornalista, tradutor, crítico de cinema. O livro traz poemas escritos entre 1956 e 1985, apontando para a continuidade de uma poesia que busca definir a si própria.
A noção de paideuma tem aqui grande importância. Alargando-se o conceito de contemporaneidade no paradoxal sentido da diacronia, o resultado é um painêl vivo de influências, um grande intertexto que atualiza todas as virtualidades da obra dos grandes poetas. Assim, José Lino fecha o livro com "Rosamallarpoe", tombeau concreto em que se acumulam palavras-temas caras à poesia: o néant, o nonada, o corvo, o never more. Em "A ira por um fio", há a lembrança de João Cabral, a rima aguda, infinitivos saltando no ar: a citação de um outro caminho na busca da concisão. A poesia falando da poesia, criando um espaço privilegiado para o leitor que procura a intensidade textual, mais do que a "temática".
Ao "sempre branco desafio da folha” que preocupava Mallarmé, José Lino responde com uma poética do espaço. A poesia concreta é o melhor exemplo de sobrevivência do gênero - pois é este o dilema da (pós) modernidade - num mundo informatizado, em que os meios de comunicação produzem incessantes imagens, invadindo o terreno da especulação em torno da palavra. A palavra, coube adaptar-se, ganhando a espessura de imagem viva. Este o sentido da divisão do livro em duas partes: de Língua a Linguagem, o verbo, sem perder sua especificidade, se converte em tecido de signos-imagens.
O poema "Onã" (aqui, também, anagrama de não) é um achado, em que lampejam sugestões de palavrões no desdobramento da frase "a ordem dos fatores não altera o produto". Mas altera. A sugestão, raciocínio interrompido, recomeçado, favorece as "subdivisões prismáticas da idéia" de que falava Mallarmé.
Com "Parlamentarismo", espécie de cartilha dos poderes públicos, José Lino mostra que a poesia concreta pode ser participante, resgatando-a das acusações de alienação quanto aos problemas do homem. O principal objeto que esse movimento se deu, entretanto, é o próprio discurso poético, elidindo as tonalidades puramente pessoais da obra. De pessoal, principalmente, a inteligência do autor. E a do leitor. O que já é muita coisa.

Jornal do Brasil
11/07/1987

 
Poesia
Estado de Minas 10/09/1961

Eruditos & eruditos
Carlos Heitor Cony Correio da Manhã 28/09/1963

Prelúdio do Zé Lino
Carlos Heitor Cony Folha de S.Paulo 26/05/1965

A contracultura eletrônica
Jacob Klintowitz Tribuna da Imprensa 18/05/1971

Transas, traições, traduções
Carlos Ávila Estado de Minas 02/12/1982

Escreve poemas, traduz Pound, é crítico de arte e é de Copa
Vera Sastre O Globo 03/10/1983

O brilhante esboço do infinito jogo de dados
Nogueira Moutinho Folha de S.Paulo 09/12/1984

Diário das artes e da impensa
Paulo Francis Folha de S.Paulo 12/01/1985

Igitur, um Mallarmé para iniciados
Salete de Almeida Cara Jornal da Tarde 08/03/1985

Grünewald traduz Ezra Pound
Jornal do Brasil 12/03/1985

O grande desafio de traduzir Pound
Sérgio Augusto Folha de S.Paulo 16/03/1985

O presente absoluto das coisas
Décio Pignatari Folha de S.Paulo 06/09/1985

Ezra Pound - entrevista
Gilson Rebello Jornal da Tarde 26/10/1985

Pound, traduzido. Uma façanha ou loucura?
Isa Cambará O Estado de São Paulo 05/12/1986

J. Lino inaugura forma de pagamento
Ângela Pimenta Folha de S.Paulo 07/12/1986

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