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O poeta desbocado

Por Esdras do Nascimento

Seleção de poemas lança nova luz à vasta obra de Bocage

Bocage saiu um pouco da moda. Houve um tempo, no Brasil, em que anedotas pornográficas a ele atribuídas eram contadas e recontadas, às gargalhadas, nos botecos e restaurantes do Rio, São Paulo, do país inteiro. Muita gente sabia de cor os seus poemas fesceninos, que eram declamados, aos risos, nos encontros de praia e nos coquetéis que precediam as reuniões de executivos.
Hoje, Bocage é lembrado quase que só por isso e pouca gente sabe quem ele realmente foi e o que produziu. A publicação dos poemas de Bocage, selecionados por José Lino Grünewald, na coleção "Poesia de todos os tempos", da Editora Nova Fronteira, concorrerá sem dúvida para a aproximação do leitor brasileiro com a obra do poeta português, abrindo caminho talvez para uma oportuna reavaliação crítica.
O volume reúne 109 sonetos, oito odes, três canções, dois cantos, cinco elegias e epicédios, cinco idílios e cantatas, nove epístolas e sátiras, uma ode anacreôntica, uma coletânea de quadras, dois apólogos, seis adivinhações, três traduções (Ovídio, Virgílio e Voltaire) e 15 poesias marginais (os chamados poemas porno gráficos).
Em 1917, quando as anedotas e poesias "eróticas" de Bocage faziam sucesso pelos bares, o sisudo Olavo Bilac - que batalhava, entre outras coisas, pelo serviço militar obrigatório - tomou-lhe a defesa. Em conferência pronunciada no dia 19 de março, no Teatro Municipal de São Paulo, garantiu que Bocage era o melhor metrificador da poesia portuguesa" e fez o que pôde para tentar justificar os "desvios de conduta" do poeta. "Em Portugal, a arte de fazer versos chegou ao apogeu com Bocage e depois dele decaiu", afirmou Bilac.
Bocage teve uma vida movimentada. Estudou em Lisboa, serviu em Goa, andou pela China, passou rapidamente pelo Brasil, foi tenente da marinha portuguesa, fez agitação política, viveu amores infelizes e dramáticos, desertou das forças armadas, fugiu para Macau, incompatibilizou-se com os padres, foi condenado pela Inquisição, retratou-se, bajulou, como rotina e sem o menor escrúpulo, quem tinha força ou dinheiro - mas sempre se manteve fiel à vocação de poeta. Nunca parou de escrever, nem mesmo quando esteve na cadeia.
Na opinião de José Lino Grünewald, Bocage foi uma espécie de pré-romântico português: dissoluto e revolucionário, lírico e erótico, lamentoso e satírico, irreverente e bajulador. Foi também pós-barroco, em poemas que tinham a natureza como pano de fundo e invocavam deusas, ninfas, águas e vegetais. E não parou por aí. Contraditoriamente, fez também incursões pelo rococó. Sem perder a pose. E sem assumir, em nenhum momento da sua vida, qualquer tipo de compromisso com a coerência. Viveu e morreu contraditório. E criou uma obra poética que está acima disso tudo. E é o que importa.

O Globo
14/02/1988

 
Poesia
Estado de Minas 10/09/1961

Eruditos & eruditos
Carlos Heitor Cony Correio da Manhã 28/09/1963

Prelúdio do Zé Lino
Carlos Heitor Cony Folha de S.Paulo 26/05/1965

A contracultura eletrônica
Jacob Klintowitz Tribuna da Imprensa 18/05/1971

Transas, traições, traduções
Carlos Ávila Estado de Minas 02/12/1982

Escreve poemas, traduz Pound, é crítico de arte e é de Copa
Vera Sastre O Globo 03/10/1983

O brilhante esboço do infinito jogo de dados
Nogueira Moutinho Folha de S.Paulo 09/12/1984

Diário das artes e da impensa
Paulo Francis Folha de S.Paulo 12/01/1985

Igitur, um Mallarmé para iniciados
Salete de Almeida Cara Jornal da Tarde 08/03/1985

Grünewald traduz Ezra Pound
Jornal do Brasil 12/03/1985

O grande desafio de traduzir Pound
Sérgio Augusto Folha de S.Paulo 16/03/1985

O presente absoluto das coisas
Décio Pignatari Folha de S.Paulo 06/09/1985

Ezra Pound - entrevista
Gilson Rebello Jornal da Tarde 26/10/1985

Pound, traduzido. Uma façanha ou loucura?
Isa Cambará O Estado de São Paulo 05/12/1986

J. Lino inaugura forma de pagamento
Ângela Pimenta Folha de S.Paulo 07/12/1986

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