No mês em que completa 25 anos, a Nova Fronteira coloca no mercado uma obra que, desde já, pode ser considerado um dos principais lançamentos na área de poesia em 1990. Trata-se de Poemas, de Stéphane Mallarmé, com organização e tradução de José Lino Grünewald. Poemas são mais do que uma tradução. São na verdade um considerável exercício de transposição dos poemas para o português e ao mesmo tempo um estudo sobre a arte de escrever segundo a concepção contemporânea que teve no poeta francês um de seus papas. E mais: José Lino Grünewald expõe generosamente a própria sensibilidade ao leitor, que o acompanha pela aventura errática e aleatória da tradução. Os poemas em português, ao lado das versões originais, são peças de um jogo complicado e fascinante na medida em que o leitor do livro segue a leitura de Grünewald e avalia o esforço na tentativa de capturar imagens fieis num espelho distorcido: o idioma receptor. Os textos de Mallarmé não são terreno cheio de armadilhas. Eles são a armadilha. Portanto, antes de apontar escorregadelas e eventuais desvios, deve-se levar em conta o objetivo maior de Grünewald, que não é apresentar traduções definitivas. Isso não existe – traduzir é interpretar com virtuosismo e condicionamento de época. O tradutor do momento entrega ao público a sua maneira de fruir a poesia de Mallarmé. Ele se sai melhor nos textos em prosa do que nos versos, o que não surpreende. Também não surpreende, óbvio, que o original é sempre inatingível na essência. Mas fazer com que o leitor brasileiro perceba com a intuição e o intelecto essa essência é o objetivo maior de trabalhos como este. Ao contrario da divulgação (o pressuposto da maioria das traduções), Poemas propõe uma aproximação possível.
O Estado de São Paulo
15/12/1990