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Panorama multiforme

Por Raquel Ramalhete

José Lino Grünewald reúne em coletânea variadas tendências da poesia francesa do século passado

O século 19 tem sido chamado o século dos ismos. Correntes literárias e estéticas nele se sucedem, paralelamente a transformações sociais não menos importantes.
A França vê nascer o século no regime imperial, com Napoleão impondo à Europa sua soberania arrogantemente saída de uma burguesia que menos de 10 anos antes decapitara o monarca absoluto; e o vê terminar, depois de atravessar seis regimes políticos, duas revoluções, um golpe de estado, algumas guerras e a Comuna, em plena Terceira República parlamentarista, numa Belle Époque deslumbrada com o aeroplano, o cinematógrafo e o metropolitano. Talvez não tenha havido na História outro século com mudanças tão significativas: que distância entre "A coroação de Napoleão", quadro de David de 1805, e "As grandes banhistas", de Cézanne, de 1900! E o mesmo se poderia dizer quanto a Cateaubrind e Mallarmé.
Nesta antologia, que cobre um século tão multiforme em arte quanto em política, José Lino Grünewald reuniu poetas de muitas tendências: românticos, neoclássicos, parnasianos, simbolistas. A intenção, declarada, não é a de um levantamento histórico preciso, mas a de um passar de olhos diante de um panorama do tempo. Encontram-se, então, clássicos indefectíveis como "O lago", de Lamartine, um trecho do "Lance de dados", de Mallarmé, além das "Correspondances", de Baudelaire; mas também deliciosos poemas menos conhecidos e poetas de que não se fala muito, como Maurice de Guérin e o precursor do surrealismo, Charles Cros. Uma seleção bem feita de quem conhece o texto e o prazer do texto.
Essa variedade de estilos, se é agradável ao leitor, é um desafio para o tradutor: alexandrinos rigorosos, rimas de todos os tipos, poemas em prosa, sonetos, do mais descabelado romantismo ao mais despojado neoclassicismo ele tem de se adaptar, entrar naquela pele. E isso Grünewald soube fazer, sem deixar, naturalmente, de mostrar suas afinidades. Assim é que todos os poemas de Verlaine estão lindamente traduzidos, e "A arte", de Théophile Gautier, de grande rigor formal, está impecável. Não esquecer que em francês as palavras são bem mais curtas que em português, e então dizer a mesma coisa com o mesmo número de sílabas é uma façanha às vezes impossível! Dois sonetos também estão primorosos, o de Félix Arvers e "Os conquistadores" , de Heredia.
Com tudo isso, há, no entanto, erros de tradução difíceis de compreender num profissional dessa categoria (quadro). Baudelaire e Lautréamont estão especialmente prejudicados, e não é a dificuldade formal de métrica ou rima que justificaria certas escolhas, pois trata-se muitas vezes de poemas em prosa. Alguns jogos de palavras, naturalmente, se perdem na tradução, como no último terceto de "A Stéphane Mallarmé", de Verlaine, ou "O poeta e a cigarra", de Tristan Corbiere, paródia perfeita da fábula de La Fontaine.
A edição, bilíngüe, é bem cuidada, com uns "cochilos" de revisão do francês que não chegam a prejudicar. Completa-se com notas biográficas e comentários sobre a obra de cada um dos poetas apresentados, também por José Lino Grünewald, traçando um bom panorama do século XIX.

Jornal do Brasil
01/02/1992

 
Poesia
Estado de Minas 10/09/1961

Eruditos & eruditos
Carlos Heitor Cony Correio da Manhã 28/09/1963

Prelúdio do Zé Lino
Carlos Heitor Cony Folha de S.Paulo 26/05/1965

A contracultura eletrônica
Jacob Klintowitz Tribuna da Imprensa 18/05/1971

Transas, traições, traduções
Carlos Ávila Estado de Minas 02/12/1982

Escreve poemas, traduz Pound, é crítico de arte e é de Copa
Vera Sastre O Globo 03/10/1983

O brilhante esboço do infinito jogo de dados
Nogueira Moutinho Folha de S.Paulo 09/12/1984

Diário das artes e da impensa
Paulo Francis Folha de S.Paulo 12/01/1985

Igitur, um Mallarmé para iniciados
Salete de Almeida Cara Jornal da Tarde 08/03/1985

Grünewald traduz Ezra Pound
Jornal do Brasil 12/03/1985

O grande desafio de traduzir Pound
Sérgio Augusto Folha de S.Paulo 16/03/1985

O presente absoluto das coisas
Décio Pignatari Folha de S.Paulo 06/09/1985

Ezra Pound - entrevista
Gilson Rebello Jornal da Tarde 26/10/1985

Pound, traduzido. Uma façanha ou loucura?
Isa Cambará O Estado de São Paulo 05/12/1986

J. Lino inaugura forma de pagamento
Ângela Pimenta Folha de S.Paulo 07/12/1986

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