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O melhor da poesia, em catorze versos

Por Afrânio M. Catani

O tempo não matou o soneto Grünewald mostra que a formula é valida para todas as épocas

José Lino Grünewald, poeta, crítico, tradutor, jornalista e advogado, foi um dos fundadores do movimento conhecido como Poesia Concreta, ao lado dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos e de Décio Pignatari. Tradutor consagrado, recebeu o Prêmio Jabuti 1987, pela tradução de Os Cantos, de Ezra Pound; além disso, lançou recentemente Escreviver, uma antologia de seus poemas. Assim, causou certa estranheza que a coletânea Grandes Sonetos da Nossa Língua (224 páginas, Cz$ 695 ,00), recém-editada pela Nova Fronteira, tivesse sido organizada por José Lino, o egresso do concretismo, uma vez que a crítica contemporânea geralmente torceu o nariz para essa forma de composição poética.


Surpresas à parte, José Lino mostra em sua introdução que o soneto, que está presente em todas as literaturas ocidentais, desde o século XIII, resiste bravamente. Na Itália, Cavalcanti, Dante e Petrarca foram sonetistas de mão cheia. Marot, Ronsard, Du Bellay, Baudelaire, Verlaine, Rimbaud, Corbière, Laxforgue e Mallarmé deram as cartas na França. Na Espanha destacou-se Garcilaso de la Vega, enquanto que na Inglaterra, Surrey, Thomas Wyatt e Shakespeare foram os gigantes no gênero. E em Portugal, o soneto encontrou em Sá de Miranda, Luís de Camões e Diogo Bernardes o trio que o engrandeceu. Essa composição poética de 14 versos, dispostos em dois quartetos e dois tercetos (soneto italiano, o mais cultivado) ou em três quartetos e um dístico final (soneto inglês), foi praticamente introduzida no Brasil pelos poetas barrocos, como Gregório de Matos e Manuel Botelho de Oliveira. Entretanto, foi com os parnasianos Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira que conseguiu extrema popularidade. "Mas, se levam a glória da popularidade'', acrescenta Grünewald, os parnasianos "são obrigados a dividir o bastão com os simbolistas. Nem tanto os mais divulgados, como Cruz e Souza e Alphonsus de Guimarães, porém nomes como os de Da Costa e Silva, Pedro Kilkerry, Raul de Leoni."

A seleção dos sonetos apresentados na coletânea obedeceu a seis critérios básicos: o de serem consagrados, independentemente do gosto do organizador ou do público atual; o grande soneto, qualquer que seja o movimento literário a que pertença; o soneto inventivo, original; o soneto sobre o soneto ou o metalingüístico; aquele que criou alguma expressão verbal que ficou na memória do público; e, finalmente, o gênero de soneto tido como "obsceno". Evidentemente, a partir de critérios tão variados, estão presentes nestes Grandes Sonetos de Nossa Língua, entre outros, Camões, Sá de Miranda, Diogo Bernardes, Gregório de Matos, Bilac, Raimundo Correia, Alberto de Oliveira, Cruz e Souza, Pedro Kilkerry, Da Costa e Silva, Manuel Bandeira, Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Drummond, Vinícius de Moraes, Jorge de Lima, Martins Fontes, Mário Faustino, Jorge de Sena, Augusto dos Anjos e Bocage (são cerca de 200 sonetos). Qualquer antologia é passível de críticas e contestações. Todavia, fica difícil entender que Guilherme Figueiredo compareça com três sonetos, enquanto Alphonsus de Guimaraens, Manuel Botelho de Oliveira e Antônio Nobre, apenas para citar alguns exemplos, tenham presenças extremamente acanhadas. Há que se lamentar, também, a ausência de uma bibliografia onde se indique a fonte da qual os sonetos foram extraídos, bem como breves considerações que situem historicamente os autores selecionados - a simples menção da época em que os poetas viveram já cumpriria razoavelmente a última limitação apontada.

Apesar das ressalvas feitas, o livro organizado por Grünewald se constitui na mais ampla reunião de sonetos da língua portuguesa já editada no Brasil. Há saborosos versos para se reler, tais como os de Mário Faustino, Jorge de Sena, Augusto dos Anjos, Jorge de Lima, Martins Fontes, Vinícius e Drummond. E para os que não se convenceram das possibilidades do soneto enquanto forma poética criativa e atual vão aqui quatro versos de Gregório de Matos (16-23-1696), que caem como uma luva para o Brasil de hoje: "A cada canto um grande Conselheiro/ que nos quer governar cabana e vinha:/ não sabem governar sua cozinha/ e querem governar o Mundo inteiro!".

O Estado de São Paulo
13/03/1988

 
Poesia
Estado de Minas 10/09/1961

Eruditos & eruditos
Carlos Heitor Cony Correio da Manhã 28/09/1963

Prelúdio do Zé Lino
Carlos Heitor Cony Folha de S.Paulo 26/05/1965

A contracultura eletrônica
Jacob Klintowitz Tribuna da Imprensa 18/05/1971

Transas, traições, traduções
Carlos Ávila Estado de Minas 02/12/1982

Escreve poemas, traduz Pound, é crítico de arte e é de Copa
Vera Sastre O Globo 03/10/1983

O brilhante esboço do infinito jogo de dados
Nogueira Moutinho Folha de S.Paulo 09/12/1984

Diário das artes e da impensa
Paulo Francis Folha de S.Paulo 12/01/1985

Igitur, um Mallarmé para iniciados
Salete de Almeida Cara Jornal da Tarde 08/03/1985

Grünewald traduz Ezra Pound
Jornal do Brasil 12/03/1985

O grande desafio de traduzir Pound
Sérgio Augusto Folha de S.Paulo 16/03/1985

O presente absoluto das coisas
Décio Pignatari Folha de S.Paulo 06/09/1985

Ezra Pound - entrevista
Gilson Rebello Jornal da Tarde 26/10/1985

Pound, traduzido. Uma façanha ou loucura?
Isa Cambará O Estado de São Paulo 05/12/1986

J. Lino inaugura forma de pagamento
Ângela Pimenta Folha de S.Paulo 07/12/1986

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