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Nova Fronteira apresenta coletânea de cinco séculos

Por Régis Bonvicino

O elenco é bom. Reúne Luis de Camões e Fernando Pessoa, os dois maiores poetas da língua portuguesa em todos os tempos. Traz Sá de Miranda, poeta português de primeira linha, nascido em 1491, inclinado à caça aos lobos, leitor de Homero no original, autor de lindíssimos poemas, morto em 1558, aos sessenta e três anos. Apresenta Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, modernistas. Olavo Bilac, Martins Fontes, parnasianos. Maranhão Sobrinho, Pedro Kilkerry e Cruz e Souza, simbolistas. Cláudio Manuel da Costa e Alvarenga Peixoto, pastores arcadistas. Conta ainda o elenco com a participação especialíssima do "Boca do Inferno" Gregório de Matos, nosso pai barroco baiano e desbocado. E com a participação mais especial ainda de Mário de Sá Carneiro, poeta futurista português, parceiro de Fernando Pessoa em Orfeu (a revista futurista portuguesa), um heterônimo vivo de Pessoa ou melhor o super heterônimo que Pessoa não precisou inventar. E há ainda coadjuvações respeitáveis.

Redescoberta do soneto

O organizador do livro, José Lino Grünewald, é competente tradutor de poesia, recentemente verteu para o português todos os "Cantos", de Ezra Pound. É também crítico de cinema e poeta de alto repertório e refinada sensibilidade, companheiro de primeira hora de Augusto de Campos, Mário Faustino, Décio Pignatari e Ferreira Gullar -a geração que lançou e ou participou e ou desertou do concretismo. Enfim, para não enfadar o leitor, falta a este "Grandes Sonetos de Nossa Língua" o que em jornalismo se chama "gancho". O pretexto que gera a oportunidade de um trabalho. Há pelo menos uns cincoenta e seis anos, desde a Semana de Arte Moderna de 1922, que o soneto saiu de cena, abominado por Mário e Oswald de Andrade. Oswald chegava a dizer, em sua irreverância inimitável, que a indústria moderna só não havia inventado o soneto porque já existiam os parnasianos Bilac etc. É verdade. Camões e carneiro. Pessoa e Drummond. Bandeira e Pessanha todos transcendem movimentos e modismos literários. Seus sonetos valem a pena em qualquer tempo, em qualquer momento sem qualquer pretexto. Sobretudo neste pais, onde a arte da poesia chegou a limites insuportáveis de degradação técnica.
Imagino que José Lino tenha-se fundado nestas razões para organizar o volume. E, assim, o livro ganha sentido mais preciso. Porque graça tem de sobra.

Sonzinho

A palavra soneto vem de som. Quer dizer sonzinho. Foi lançado na Itália e imortalizado por Cavalcanti, Dante e Petrarca como informa o próprio José Lino, em seu prefácio.
José Lino conhece poesia. Tem boa mão. Suas escolhas são sensíveis. Como deixar de apreciar os sonetos do "Passo da Cruz", de Fernando Pessoa?. "Adagas cujas jóias velhas galas.../ Opalesci amar-me entre mãos raras...". E Camões. E Pessanha. E Bandeira. Etc. E a indignação artesanalmente perfeita de um Gregório de Matos, que tanto faz falta hoje na poesia brasileira. "Um calção de pindoba, e meia zorra (...) penacho de guará, em vez de gorra...". Mas mesmo tendo boa mão José Lino deixou de fora alguns sonetos maravilhosos. Por exemplo, incluiu bons sonetos de Sá Carneiro mas exclui peças mais agressivas e esteticamente mais relevantes deste grande poeta como o soneto "Aqueloutro", que cito um trecho para abrir o apetite do leitor, "O corrido, o raimoso, o desleal,/ o balofo arrotando império astral,/ O mago sem condão, o Esfinge Gorda...".
Pelo sim, pelo não, faltam ao livro informações didáticas sobre os autores, seu tempo e sua obra. Poucos entre nós conhecem Sá de Miranda ou Sá Carneiro. José Lino teria prestado um bom serviço, além de enriquecer o volume tornando-o menos arbitrário.

Folha de S.Paulo
06/02/1988

 
Poesia
Estado de Minas 10/09/1961

Eruditos & eruditos
Carlos Heitor Cony Correio da Manhã 28/09/1963

Prelúdio do Zé Lino
Carlos Heitor Cony Folha de S.Paulo 26/05/1965

A contracultura eletrônica
Jacob Klintowitz Tribuna da Imprensa 18/05/1971

Transas, traições, traduções
Carlos Ávila Estado de Minas 02/12/1982

Escreve poemas, traduz Pound, é crítico de arte e é de Copa
Vera Sastre O Globo 03/10/1983

O brilhante esboço do infinito jogo de dados
Nogueira Moutinho Folha de S.Paulo 09/12/1984

Diário das artes e da impensa
Paulo Francis Folha de S.Paulo 12/01/1985

Igitur, um Mallarmé para iniciados
Salete de Almeida Cara Jornal da Tarde 08/03/1985

Grünewald traduz Ezra Pound
Jornal do Brasil 12/03/1985

O grande desafio de traduzir Pound
Sérgio Augusto Folha de S.Paulo 16/03/1985

O presente absoluto das coisas
Décio Pignatari Folha de S.Paulo 06/09/1985

Ezra Pound - entrevista
Gilson Rebello Jornal da Tarde 26/10/1985

Pound, traduzido. Uma façanha ou loucura?
Isa Cambará O Estado de São Paulo 05/12/1986

J. Lino inaugura forma de pagamento
Ângela Pimenta Folha de S.Paulo 07/12/1986

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