jlg
sobre

  rj  
Poesia – instante mágico e mítico

Por A.R.N.

Uma prática comum entre os nossos poetas concretos é de não excluir de suas obras completas e antologias os poemas da fase anterior, a fase discursiva. Augusto de Campos assim procedeu em Viva Vaia, um dos mais belos livros de poesia do país. Décio Pignatari fez o mesmo em Poesia Pois É Poesia E Poetc. Agora é a vez de José Lino Grünewald com Escreviver (Nova Fronteira, 1987).
Dividido em duas partes, “Língua” e “Linguagem”, de imediato nos sentimos incomodados por essa divisão na qual a língua parece excluída da linguagem. O mal-estar na impressão logo se desfaz quando constatamos que em “Língua” estão os poemas discursivos e em “Linguagens”. Um mero s a mais que tudo tendemos que é na segunda parte que o rompimento radical com a sintaxe ortodoxa da língua abre para a linguagem não-verbal: poemas incorporados (ao) e incorporando (o) espaço em branco da página.
Fica clara a divisão mas ainda não satisfaz. Talvez porque outro poeta – João Cabral de Melo Neto – ao reunir parte de seus poemas em Poesia Critica tenha conseguido a fórmula (única, pessoa, intransferível e feliz) de intitulá-los “Linguagem” e “Linguagens”. Um mero s a mais que tudo explicita. Linguagem é a trapaça feita no campo verbal. Linguagens são as transas que englobam o código verbal mais os códigos não-verbais: pintura, escultura, arquitetura etc.
Quem sabe, para não repetir o modelo cabralino, José Lino tenha optado pelo par língua/linguagem. Por fim aceitamos, sob a luz de João Cabral, a quem rendemos tributo uma vez mais.
Em “Língua” está a produção poética de José Lino de 56 e 64. Nestes poemas percebe-se, alem do predomínio da melopéia (a musicalidade), como bem observa Décio Pignatari no “Prefácio”, um jogo cinematográfico a trapacear com a ortodoxia da língua. Não é o português rígido dos manuais lusitanos que aqui encontramos. É a sintaxe correta, lampejando a Cruz e Souza. E mais: o desvio imagético a subverter a normatividade lingüística. Assim: um fino veio clássico tinge os poemas com imagens míticas e arquetípicas: a figura do sol, de Circe, do Gigante, da águas, das flautas passeia pelos poemas. Em contrapartida Alice, Monalisa, Paul Klee, Bashô explodem em irreverências lingüísticas: “pinguepongue sabadomingo pumisseteiro vaginóstia”.
Mas é na 2ª parte, com os poemas concretos, que vamos encontrar o verdadeiro poeta José Lino Grünewald. Integrando o movimento da Poesia Concreta desde as origens (56/57) ele é um dos grandes nomes dessa “poesia de exportação”. E não somente poeta. Como pode-se constatar pelo “Posfácio” que redigiu, José Lino tem claro a teoria da poesia concreta. Em estilo jornalístico afirma: “a principal característica de um poema concreto é aquela de conferir, em princípio, a mesma importância ao aspecto semântico, sonoro, visual da palvra ou dos dignos e sinais ou do texto/contexto em si. Nisso tudo, também entra a disposição gráfico-espacial, com os brancos, a diversidade tipográfica etc.”. Bela síntese. Mais bela é a sua poesia aqui apresentada cobrindo o período de 56 a 85. Nesta 2ª parte o leitor vai encontrar desde os já clássicos e antologiáveis “Petróleo”, “vai e vem”. “forma” até os mais recentes “TVT”, “King/Keats” e o delicioso “Rosamallarpoe”.
Nas mãos (melhor seria dizer sob os olhos) de José Lino cada palavra, cada silaba e até cada letra tem a dimensão da sua importância total: significado e significante. Marcadamente influenciado pelos caracteres da escrita oriental ele escreve desenhando.
Poesia concreta, são os substantivos que desencadeiam a poética da poesia pela poesia. Ao falar assim, tão metalingüisticamente, pensa-se logo em contrapor poesia concreta e engajamento político. Besteira. O engajamento do poeta é com a palavra e um poema como “Petróleo” vale por muitas campanhas publicitária (e por muitas outras mais se alem de publicitária, nacionalistóide). “Parlamentarismo”, de 61, antecipa (ah antenas da ironia) a retórica pós-64 e presta-se como homenagem à verborragia desavergonhada da (infame) Constituinte.

Jornal da Tarde
11/07/1987

 
Poesia
Estado de Minas 10/09/1961

Eruditos & eruditos
Carlos Heitor Cony Correio da Manhã 28/09/1963

Prelúdio do Zé Lino
Carlos Heitor Cony Folha de S.Paulo 26/05/1965

A contracultura eletrônica
Jacob Klintowitz Tribuna da Imprensa 18/05/1971

Transas, traições, traduções
Carlos Ávila Estado de Minas 02/12/1982

Escreve poemas, traduz Pound, é crítico de arte e é de Copa
Vera Sastre O Globo 03/10/1983

O brilhante esboço do infinito jogo de dados
Nogueira Moutinho Folha de S.Paulo 09/12/1984

Diário das artes e da impensa
Paulo Francis Folha de S.Paulo 12/01/1985

Igitur, um Mallarmé para iniciados
Salete de Almeida Cara Jornal da Tarde 08/03/1985

Grünewald traduz Ezra Pound
Jornal do Brasil 12/03/1985

O grande desafio de traduzir Pound
Sérgio Augusto Folha de S.Paulo 16/03/1985

O presente absoluto das coisas
Décio Pignatari Folha de S.Paulo 06/09/1985

Ezra Pound - entrevista
Gilson Rebello Jornal da Tarde 26/10/1985

Pound, traduzido. Uma façanha ou loucura?
Isa Cambará O Estado de São Paulo 05/12/1986

J. Lino inaugura forma de pagamento
Ângela Pimenta Folha de S.Paulo 07/12/1986

49 registros
 
|< <<   1  2  3   >> >|