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Igitur, um Mallarmé para iniciados

Por Salete de Almeida Cara

O trabalho poético de José Lino Grünewald recebe uma confirmação de qualidade com a publicação da tradução de Igitur - ou a loucura de Elbehnon (Nova Fronteira, 76 páginas), do poeta francês Stéphane Mallarrné. Escrito em 1869, Igitur precede longo poema-sinfonia "Um lance de dados", de 1897, obra maxima da modernidade, que concretiza poeticarnente o tema das relações entre o Nada e a linguagem.
Igitur é livro para iniciados, para leitores familiarizados com a obra de Mallarmé. Termo tirado do latim, é aqui figura alegórica, representando o próprio processo criativo do poeta: "Só eu - só eu - vou conhecer o nada".
O conceito de Nada, que percorre a obra de Mallarmé e acaba corno tema/forma em "Um lance de dados", encontra, em Igitur, um momento-chave capaz de fazer ponte entre textos anteriores (como o misterioso soneto de rimas em "yx") e a obra máxima de 1897.
O problema fundamental a ser enfrentado é o da palavra poética e sua constante busca - ao mesmo tempo vitoriosa e fracassada - da idealidade. É claramente inútil, no entanto, querer discutir tudo isso nos limites de uma resenha de jornal. A questão é ontológica e pressupõe não só familiaridade com a tradição poética moderna, como também com a convivência, aparentemente contraditória, entre idealismo e niilismo.
Além disso, o impasse estará longe de ser apenas teórico para aqueles leitores aventureiros, marinheiros de primeira viagem. As relações de Igitur com a tradição moderna, desde um Baudelaire (para só ficar com um marco tradicionalmente reconhecido), não elimina a força pessoal do texto aqui traduzido. O que, para quem conhece Mallarrné, reforça a idéia de que se trata de livro para iniciados. Falando sobre o texto, afirma o tradutor: "Além do hermetismo contingente, não é fácil classificar Igitur nas generalizações consagradas da literatura: poesia? prosa? Mas não se exprime como um conto. Ocultismo, ficção e filosofia se entranham mutuamente; ou essência ou suma teórica para um Teatro Total, onde vida & arte se conjugam em modulação una, isomórfica?"
Isso posto, essa resenha só não se resume a uma simples noticia de lançamento devido à excelência da tradução, que cumpre ressaltar. Como apêndice , José Lino brinda o leitor com a tradução de um soneto que já apareceu pelas mãos de um dos nossos mais competentes. poetas-tradutores, Augusto de Campos. E o soneto intitulado exatamente "Brinde", escrito em 1893. A tradução de José Lino é excelente e convido os leitores interessados nos problemas da poesia a mergulharem numa comparação entre o texto original e essas duas transcriações em língua portuguesa. Rendo-me à de José Lino Grünewald e agradeço a Augusto de Campos pela oportunidade dessa viagem poética.

Jornal da Tarde
08/03/1985

 
Poesia
Estado de Minas 10/09/1961

Eruditos & eruditos
Carlos Heitor Cony Correio da Manhã 28/09/1963

Prelúdio do Zé Lino
Carlos Heitor Cony Folha de S.Paulo 26/05/1965

A contracultura eletrônica
Jacob Klintowitz Tribuna da Imprensa 18/05/1971

Transas, traições, traduções
Carlos Ávila Estado de Minas 02/12/1982

Escreve poemas, traduz Pound, é crítico de arte e é de Copa
Vera Sastre O Globo 03/10/1983

O brilhante esboço do infinito jogo de dados
Nogueira Moutinho Folha de S.Paulo 09/12/1984

Diário das artes e da impensa
Paulo Francis Folha de S.Paulo 12/01/1985

Igitur, um Mallarmé para iniciados
Salete de Almeida Cara Jornal da Tarde 08/03/1985

Grünewald traduz Ezra Pound
Jornal do Brasil 12/03/1985

O grande desafio de traduzir Pound
Sérgio Augusto Folha de S.Paulo 16/03/1985

O presente absoluto das coisas
Décio Pignatari Folha de S.Paulo 06/09/1985

Ezra Pound - entrevista
Gilson Rebello Jornal da Tarde 26/10/1985

Pound, traduzido. Uma façanha ou loucura?
Isa Cambará O Estado de São Paulo 05/12/1986

J. Lino inaugura forma de pagamento
Ângela Pimenta Folha de S.Paulo 07/12/1986

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