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Grünewald traduz Ezra Pound

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Uma das poucas coisas que todo mundo sabe a respeito do poeta americano Ezra Pound é que se tratava de uma figura controvertida. Tanto que, 13 anos depois de sua morte, ainda há quem se recuse a compreendê-lo, apegando-se ao fato de ter sido um adepto do regime fascista. Quem percebeu, no entanto, ainda na década de 50 a sua capacida de inovadora e a sua visão de poesia, dificilmente se acomodaria com esse desconhecimento generalizado que perdura. É o caso dos irmãos Campos, que lançaram no ano passado um livro chamado Poesia, de Ezra Pound. E do tradutor José Lino Grunewald, que entregou há duas semanas 927 laudas de 30 linhas à editora Nova Fronteira. Nelas, a tradução integral dos célebres Cantos, uma tarefa intrincada e cansativa, jamais tentada em português.
Durante cerca de um ano e meio, José Lino, formação de jornalista e crítico, poundiano ferrenho, debruçou-se sobre a obra considerada o ápice da construção poética do artista. Rodeado por dicionários gerais e específicos, como A companion to the Cantos of Ezra Pound, da Universidade de Berkeley, o tradutor não se furtou a nenhum desafio e teve o cuidado de manter a seqüência gráfica imaginada pelo autor, inclusive com desenhos e ideogramas. O resultado de seu trablaho só virá a público, no entanto, no final do ano, quando se comemoram os 100 anos de nascimento de Pound. Até lá, José Lino Grunewald terá tempo de descansar, distrair-se com os filmes de Chaplin que tem gravados em videocassette ou os discos de Jeannette MacDonald e Nelson Eddy, que aprendeu a apreciar nos seus tempos de crítico de cinema do Suplemento Dominical, neoconcretista, do JORNAL DO BRASIL. E rever ainda uma vez os originais.
Há alguns meses, saiu pela mesma Nova Fronteira a tradução de Igitur, de Mallarmé, que José Lino Grunewald iniciou em 1958. Só 27 anos mais tarde conseguiu "resolver" o texto a contento. A comparação com a versão dos Cantos para o português é inevitável. E não só porque ele levou muito menos tempo para fazê-la.
- Em Igitur tentei quase afrancesar a língua portuguesa. Com Pound fui tradittore mais do que tradutor. Achei que para ser fiel a ele eu teria de fazer como ele fez com os outros, a quem traduziu. Então no Canto 1, por exemplo, onde ele coloca a sua tradução de um certo Andrea Divus, que por sua vez teria traduzido o Canto 11 de Homero, eu transcrevi os versos do poeta Odorico Mendes, que havia traduzido a Odisséia. Fiz o que ele chamava de "instigar". A função do tradutor, afinal, é interpretativa.
Quando José Lino Grunewald leu os Cantos de Pound pela primeira vez, em 1954, achou-os difíceis. Sentiu-se de certa maneira intimidado com um universo referencial que parecia impenetrável, com versos que lembravam o que em música se chama de fuga, com textos em que a quebra de sintaxe e a mudança súbita de uma idéia para outra não deixavam dúvidas: tratava-se de vanguarda. Do tipo capaz de gerar repúdio ou adoração. Hoje, ao dar por terminada a tradução, ele resume as muitas noite concentradas - às vezes por mais de quatro horas seguidas - tentando deslindar tramas de palavras.
- Gosto do difícil. Fazer o fácil não é vantagem.
Se Ezra Pound redescobriu poetas como Laforgue e Corbière, Guido Cavalcanti ou os trovadores provençais, José Lino Grunewald se contenta com, na esteira dos irmãos Campos, trazer Pound para os brasileiros numa empreitada que o mexicano Vasquez do Amaral levou a cabo, mas subvencionado para dedicar-se inteiramente a isso. Dividindo seu tempo entre um emprego público e suas traduções, José Lino não baqueou. Acompanhou o jogo de máscaras que Pound tanto apreciava e manteve nos ouvidos a teoria do mestre, que foi o que o fez aproximar-se de sua poesia, nos idos de 50. A teoria de quem acreditava que a poesia estava morrendo e precisava ser reativada: para isso conjurava imagens magníficas, fina ironia, uma certa antipatia aos sonetos e a percepção aguçada pelo que percebia ser bom. O irlandês Joyce escrevendo seu Ulysses, por exemplo. Ou o T.S. Elliot de The waste land. Ou ainda o Camões de Os Lusíadas a quem classificou de o "Rubens do verso", comparando-o ao pintor holandês.

Jornal do Brasil
12/03/1985

 
Poesia
Estado de Minas 10/09/1961

Eruditos & eruditos
Carlos Heitor Cony Correio da Manhã 28/09/1963

Prelúdio do Zé Lino
Carlos Heitor Cony Folha de S.Paulo 26/05/1965

A contracultura eletrônica
Jacob Klintowitz Tribuna da Imprensa 18/05/1971

Transas, traições, traduções
Carlos Ávila Estado de Minas 02/12/1982

Escreve poemas, traduz Pound, é crítico de arte e é de Copa
Vera Sastre O Globo 03/10/1983

O brilhante esboço do infinito jogo de dados
Nogueira Moutinho Folha de S.Paulo 09/12/1984

Diário das artes e da impensa
Paulo Francis Folha de S.Paulo 12/01/1985

Igitur, um Mallarmé para iniciados
Salete de Almeida Cara Jornal da Tarde 08/03/1985

Grünewald traduz Ezra Pound
Jornal do Brasil 12/03/1985

O grande desafio de traduzir Pound
Sérgio Augusto Folha de S.Paulo 16/03/1985

O presente absoluto das coisas
Décio Pignatari Folha de S.Paulo 06/09/1985

Ezra Pound - entrevista
Gilson Rebello Jornal da Tarde 26/10/1985

Pound, traduzido. Uma façanha ou loucura?
Isa Cambará O Estado de São Paulo 05/12/1986

J. Lino inaugura forma de pagamento
Ângela Pimenta Folha de S.Paulo 07/12/1986

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