HÁ um certo preconceito de parte da chamada intelectualidade que leva em consideração mais a chamada "qualidade" dos programas de TV do que o veículo em si. Acontece que tal crítica é de segundo plano e o telespectador continuará vendouvindo, a manipular o seu espetáculo intimista.
É muito comum também ouvir-se dizer que a TV prejudica a cultura, conferindo-se a esse termo uma espécie de limitação semântica, ou seja, a cultura como a última etapa dos refinamentos da sensibilidade. Mas, aí, há um erro: cultura significa tudo o que diz respeito à ação do homem. E a TV é a consequencia da evolução dos instrumentos. E se é a nossa maior forma de cultura é porque também constitui o veículo mais poderoso.
Cabe, aqui, tentar estabelecer uma distinção entre informação e comunicação. A informação é simplesmente o dado, o fato novo. E esse dado vem emoldurado num maior ou menor grau de redundância, ou seja, a conotação com o passado, com a coisa já conhecida. E o elo com aquilo que se chama realidade.
A comunicação é a informação entrosada com seu veículo. Estes últimos vão da grande simplicidade à maior complexidade. Proporcionam o sentido definitivo àquilo que se informa, alteram seus efeitos e, às vezes, até agem sobre a estrutura.
E é essa mesma TV e seu intimismo; não se trata da massa de pessoas confinadas espacialmente num estádio ou num cinema. São pessoas isoladas ou pequenos grupos, assistindo ao vídeo, mas que somados todos na idêntica situação, registra-se milhões. Uma coisa é sentir a emoção desfechada por um filme junto com centenas de pessoas; outra coisa será senti-la encerrado num aposento.
Em suma: no cinema, estamos imobilizados; na televisão, aumentamos ou diminuimos o som, alteramos a intensidade da cor, graduamos os contrastes, a luminosidade etc. A TV, portanto, não é só um meio de captar informações. E uma forma de conhecimento.
Última Hora
16/09/1983