Dizia Lênin que o cinema era a arte do século. Segundo uma feliz observação do cineasta Júlio Bressane, o maior diretor russo, Eisenstein, sofreu um trauma ao chegar aos Estados Unidos, não tanto por causa dos problemas com seus projetos, mas em decorrência da alta tecnologia de Hollywood, onde o que era arduamente concebido pelos desenhistas de produção europeus e soviéticos era feito com um pé nas costas por qualquer carpinteiro de estúdio. O verdadeiro know-how e, do outro lado, a crise do artesanato com a segunda revolução industrial.
Hoje - sabe-se - não é bem o cinema, mas a TV, o grande veículo do século. E o filme é o modo de reprodutibilidade por excelência.
A mobilização via televisão é um fato, em consequência do poderio do mesmo veículo. É por ela que se fazem as grandes campanhas, seja mediante induzir pela fantasia ou, então, acionar pela realidade dos problemas que assolam o país. Veja-se o grande êxito - inesperado até para seus promotores - da campanha Nordeste Urgente, que sacode quase que o Brasil inteiro. Afinal, o problema subhumano das secas vem se eternizando, mas talvez nunca, como agora, a solidariedade nacional se manifestou de modo tão imediato e eficiente. A Rede Globo e a Legião Brasileira de Assistência estão conseguindo resultados em curto espaço de tempo que, até hoje, dificilmente autoridades e órgãos oficiais conseguiram. E, além das contribuições das pessoas de toda parte de nosso território, outras instituições como o Bradesco, passam a aderir.
A força do audiovisual gira em favor da formação de uma consciência coletiva, no sentido de que o pinga-pinga de cada um soma recursos até espantosos. Agora, trata-se de azeitar o aparato para não deixar a peteca cair. E é preciso que as emissoras de TV, bem como todos os órgãos de comunicação, sensibilizem o Governo, combatam a morosidade das iniciativas, devido sucesso da campanha. É o necessário desdobramento desta última.
Última Hora
23/09/1983