O Quarta Nobre de anteontem foi um lauto fiasco. Já de saída, pouco poderia se esperar de um conto televisado, quando o entrecho fica espremido em tempo escasso entre a novela das oito e a novela das dez. E a compactação ainda mais sofre com uma imensa descarga de anúncios, que chega a tornar o tempo dos "intervalos" quase tão longo quanto o do decorrer da trama.
E que trama? Um enredo pseudomoralista, onde um casal que vive no aperto, mal conseguindo pagar o apartamento, acha uma sacola contendo bolada que lhes daria a independência financeira. O outro casal, que pensara em recolher o dinheiro de uma financeira e o perde, numa confusão nas ruas em que a mulher ficou envolvida, por causa da perseguição da polícia a uns assaltantes - entra em coma existencial. Ele é dentista - ela, não há tempo material para explicar. Há uma filha que afaga o pai na hora da crise, pedindo desculpas por um quebra-pau de outrora. A cena é gratuita, porque inconsequente. Assim como totalmente inconsequente é a história posta diante dos olhos do telespectador. Da mesma forma, o macete de imobilizar a imagem no desfecho, enquanto desfila o restante dos letreiros. O lugar-comum recebeu mais uma vez a sua homenagem de práxe. Roberto Farias é o diretor (??). Pelo visto, o problema foi somente de cachê - o que não maltrata nenhum mortal.
E os atores? Na dúvida do devolve x não devolve a bolada achada na rua, Cláudio Cavalcanti é Renata Sorrah - dois intérpretes experimentados – acham graça dos próprios papéis. Há um garoto que simula ser filho deles e, numa cena pretensiosamente dramática, faz muxoxo enquanto os pais brigam. Óbvio: os garotos não gostam de ver os pais em conflito. Elementar; até para o Sistema Globo.
Stênio Garcia e Eva Wilma fazem o casal que perdeu o dinheiro. Acusações mútuas - entre closes de desespero e mau humor - precedem a reconciliação. Mas não há reconciliação possível entre o público e um abacaxi desses.
Última Hora
30/09/1983