A figura do ator constitui um dos processos mitificantes da televisão: especialmente na telenovela, com os grandes índices de audiência a sacudir as classes B, C e D. E, logo, existe uma primeira coisa a constatar: como esses mesmos atores ficam muito mais naturais na TV do que no cinema. Isso vem de longe - apenas agora tal discrepância vem-se atenuando.
Outra coisa que favorece muito a maior intimidade do ator com o público, no circuito da televisão, é a grande incidência de close ups e primeiros-planos, no jogo dominante de campo e contracampo. A ascendência dos detalhes de inflexões faciais, de gestos furtivos. Em suma, ao contrário do que ocorre no teatro, a distância do que acontece no vídeo e também na tela dos cinemas com os espectadores em geral é quase sempre a mesma. No teatro - é o óbvio - já há uma diferença entre estar sentado na primeira, fila e na última fila, na platéia ou na torrinha.
O teatro, até há pouco, era considerado mais nobre. Mas, essa balela, a eletricidade incumbiu-se de destruir. Hoje, os nossos grandes atores de teatro, até os mais relutantes, partiram para a telenovela, seja rasgada ou intelectualizada. Mesmo porque a mitificação da TV pode encher as salas de espetáculo mais "sérias", muitos querendo ver os seus ídolos consagrados do vídeo em carne e osso. E aí estão os exemplos de grandes atores nossos de teatro com o giro permanente na TV, como Teresa Raquel (aquela que estreou, via Teatro do Estudante de Paschoal Carlos Magno, em Fedra, uma Fedra magnífica, no Serrador), Tônia Carrero, Fernanda Montenegro, Paulo Autran, Fernando Torres, Milton Moraes ou os falecidos Ziembinski e Jardel Filho.
Hoje, todos esses, misturados aos atores de cinema, do rebolado, da pornochanchada, e até da própria TV, ennquecem o espetáculo. Ao contrário de uma minoria de privilegiados que podem pagar uma entrada no teatro, enriquecem a catárse milhões. Dia a dia.
Última Hora
06/10/1983