AQUI, no Brasil, a telenovela transformou-se numa realidade catártica do dia-a-dia de toneladas de habitantes, do Chuí ao Oiapoque. Mas não constitui apenas um fenômeno interno. Segundo o depoimento de várias pessoas, há poucos anos chegou a interromper deliberações do Governo de Portugal e passou a percorrer outros países.
O know-how nacional em matéria de televisão traduz algo de inobjetável. Assimilamos o processo do veículo inicialmente importado e a ele conseguimos conferir uma marca, um estilo, no tocante ao progresso consumado. Um povo com menor tradição do código da escrita, somente poderia dar maior estímulo à criatividade do mundo da imagem e do som. Lê-se pouco; mas passa-se a verouvir muito.
As nossas telenovelas têm, em média, uma cinegrafia sempre eficaz, arriscando-se, vez por outra, no rompante da criatividade. A montagem atende ao mínimo de profissionalismo. E as apresentações, os títulos, os desenhos, as músicas-tema, bem instigantes.
Mas é nos atores, na sua direção que o poderio do veículo, dentro do-gênero, vem se manifestando de forma mais aguda. As vezes, considera-se um tour de force ver tantos personagens em cena e poucos destoando. E nessa ainda pequena história da telenovela, quantas interpretações, quantos tipos, já não marcaram época. Em Gabriela, é lembrar a galeria dos "coronéis", ou a figura inesquecível de Tonico Bastos, vivido por Fulvio Stefanini. Vale recontar a dupla Suely Franco e Milton Moraes, no Espigão. Ou Paulo Gracindo, em vários papéis, como os de Bandeira Dois, Os Ossos do Barão, O Casarão. Jardel Filho na sua última atuação, em Sol de Verão; ou o Paulo Autran de agora, em Guerra dos Sexos. Enfim, José Lewgoy (que, desde a sua estréia, na chanchada da Atlântida, Carnaval no Fogo, já dera o seu plá), trazendo ao Edgar, de Louco Amor, a medida histriônica do ator por excelência.
Última Hora
08/10/1983