A consequência cultural de utilizar-se um mecanismo de TV é saber desenvolver uma ideologia. Ninguém ignora: são milhões de aparelhos, ligados, instalados pelo País afora. Os gestos e os jeitos são praticamente uníssonos. O sujeito chega (vamos supor) estafado de um dia de trabalho e consuma a ligação do aparelho. Aí, inicia-se a sequência de sonhos prevista para a parte do assim denominado lazer.
A discussão em torno do controle estatal ou da privatização pode ser meramente anódina. Ver TV, para uma minoria, é uma arte. Para a maioria, traduz aquilo que oscila entre o tédio e o escarcéu. Infelizmente, tal como o antigo sabonete Lever, os pobres mortais pensam que aquele brinquedinho iluminado tem algo a acrescentar à biografia de quem assiste. Mas, não é bem assim. Cessa o hipnotismo para quem retorna, no dia seguinte, ao lavra-lavra .
Outrora, os aparelhos não possuiam a mesma nitidez de agora - no tocante à transmissão da imagem. Hoje, ficou diferente. A clareza do que se vê, representa a constante obrigatória. Essa mesma nitidez não consiste uma promessa de lucidez. Mas ela vai envolvendo, as pessoas prendem-se mais ao vídeo. Aí, aí mesmo, começa a história da cultura moderna - ou aquilo que Mac-Luhan denominara de "aldeia Global". Saímos da mecânica de Newton, para a eletricidade.
Nessa instância, volta-se ao tema do princípio deste escrevinhar. O ideal não é a participação e - muito menos - a ingerência do Estado no direito de divulgar, de opinar, em suma o sacrossanto direito de expressão. O ideal é a livre competição de competências. No momento, há uma rede que executa seu sistema de poder. Lamentável. A força cultural do universo da TV exigiria que o consumidor ganhasse opções. Criar condições para tanto evidencia uma injunção. Daqui há pouco, quem sabe? No Brasil de agora, existem seis poderes (teóricos ou práticos): o Executivo, o Legislativo, o Judiciário, o Militar, o Empresariado e a TV Globo. Temos de sair daí a fim de começar uma análise dos fatos políticos.
Última Hora
05/11/1983