Os programas populares são drásticos. Interfere todo mundo, mas ninguém interfere. O sr. Chacrinha dá o plá: o sr. Silvio Santos dá o seu também. E o público fica no mesmo. São dois imbecis - indagariam os intelectuais? Sabem o que estão fazendo.
Os grandes programas de envolver o público possuem essa virtude. Brincam, brincam, como se o público fosse formado de trouxas. O público ri e não interfere. As moças passeiam pelo vídeo, oferecem aquele sorriso acalentador. E nada mais. Por que manter-se um programa desses que não tem mais significação - além dos signos da doença mental que os gênios do povo perseguem em sua intencionalidade?
Volte-se ao video, por que tanta irracionalidade? Dizem que o povo gosta. O povo gosta por que quer? Não - tem de haver um fim de papo para essa palhaçada. O povo vê e sente-se inserido num contexto de besteiras. O programa do sr. Silvio Santos constitui um acinte à inteligência. Ninguém o verá com um mínimo de bom senso. Trata-se da ejaculação da burrice (da burrada, que seja) com todas as suas devidas tonalidades.
O ser humano é burro? Só o sr. Silvio Santos responderá. Ele mama dinheiro. Brinca de amoral e de hipócrita. Aquele seu sorriso hollywoodiano só ilude madamas defrocadas. E, depois, tonto e feliz, vem falar-nos de Moral. Aliás, o que é moral? Só o gênio Silvio Santos responde. Moral trata-se de um mísero exercício de cinismo. Moral foi feita para o sr. Silvio Santos chegar onde chegou. Chegamos aonde? O País ainda é feito de palhaçadas. Vê-se, ouve-se o sr. Silvio Santos. Era melhor, menos insaudável, lidar com o sr. Brizola. Ele é divertido - como todo gaucho que se preze é profundamente divertido. O sr. Brizola pelo menos, é um homem que não se preza. Foi grande na cadeia da legalidade - quando alguns malucos fardados queriam impedir a posse de Jango. Mas a TV tem de estar no ritmo do País. Chega de programas cretinos, chega de SS.
Última Hora
14/11/1983