jlg
traduções

  rj  
Alguns princípios básicos de cinematografia

Sergei Eisenstein

Nota:
Sergei M. Eisenstein não foi apenas um dos maioreis realizadores da sétima arte. Seus ensaios, principalmente os consubstanciados nos livros "Film Sense” e "Film Form", contam-se entre os mais importantes nesse campo, devendo-se lembrar, em especial, as teorias sôbre montagem. Para tanto, procurou sempre empreender a pesquisa das várias relações de estrutura ou as diversas conotações entre o cinema e as outras artes. Constituem trabalho de interésse primordial seus estudos das múltiplas relações da sétima arte com a técnica do verso a pintura e o ritmo visual, o ideograma chinês, o teatro japonês e muitos outros meios de expressão. Para ele, autores como Joyce, Mayakowsky, Gogol, Milton e Rimbaud, por exemplo, oferecem em suas obras trechos que poderam contribuir de um modo direto para a concepção da linguagem cinematográfica, mediante um critério de transposição harmônica de seus respectivos métodos.
O trecho que ora apresentamos, joi escrito em 1934, estando contido num dos capítulos de "Film Form".

J.L.G.

Sem ir demasiado longe no emaranhado teórico sôbre as características do cinema, pretendo aqui discutir dois de seus aspectos. São também aspectos das outras artes, mas o filme está particularmente relacionado com êles. Primeiro: fragmentos fotográficos da natureza são compilados; segundo: êsses fragmentos são combinados mediante vários modos. Daí, a tomada (ou composição) e então, a montagem.
A fotografia é um sistema de reprodução para fixar eventos reais e elementos da atualidade. Essas reproduções, ou foto-reflexos podem ser combinados através de diversas maneiras. Ambos como reflexos e, segundo o método de sua combinação, permitem qualquer grau de distorção - tecnicamente inevitáveis ou deliberadamente calculados. O resultado oscila entre as exatas e · naturais combinações de experiências visuais inter-relacionadas e as alterações completas - disposições não previstas pela natureza - ou, até mesmo ao formalismo abstrato com remanescentes da realiqade.
A aparente arbitrariedade da essência, em sua relação com o "status quo" da natureza, é muito menor do que parece. A forma final é inevitavelmente determinada, consciente ou inconscientemente, pelas premissas sociais do rezalizador da composição cinematográfica. Sua determinada tendência de classe é a base do que se afigura como uma arbitrária relação cinematográfica com o objeto colocado ou encontrado diante da câmera.
Gostaríamos de encontrar nesse duplicado processo (o fragmento e suas relações) uma como que alusão das peculiaridades do cinema, mas não podemos negar que tal processo se nos depara em outros meios artísticos, aproximados ou não do cinema (e qual arte não está próxima do cinema?). É possível, entretanto, insistir que êsses aspectos são específicos ao filme, porque o que o caracteriza repousa não no próprio processo mas no grau em que tais aspectos são intensificados.
O músico usa uma escala de sons; o pintor, uma escala de tonalidades; o escritor, uma sucessão de sons e palavras - e são todos tomados da natureza em igual medida. Porém o imutável fragmento da atual realidade, nesses casos, é mais estrito e mais neutro em sentido e, por conseguinte, mais flexível para associação, de forma que, quando são justapostos, perdem todos os sinais visíveis de o terem sido, aparecendo como uma unidade orgânica. Um acorde, ou mesmo três notas sucessivas, assemelham-se a uma unidade orgânica, Por que se consideraria a combinação de três pedaços de filme em montagem numa tríplice colisão, como impulso de três imagens sucessivas?
Um tom azul é misturado com um vermelho e o resultado é dado como violeta e não como dupla exposição de vermelho e azul. A mesma unidade de fragmentos de palavras realiza tôdas as espécies de variações expressivas possíveis. Quão facilmente três nuanças de significado podem ser distinguidas em linguagem - por exemplo: "uma janela sem luz", "uma janela escura" e "uma janela apagada".
Agora, tente expressar essas diversas nuanças na composição do filme. Será possível ao todo?
Se é, então qual o complicado encadeamento será necessário para entrosar os pedaços de filme em uma contextura tal, que a forma negra na parede comece a surgir ao mesmo tempo como uma janela "escura" ou ''apagada"? Quanto de aptidão e de engenho serão gastos a fim de alcançar um efeito que as palavras perfazem tão simplesmente?
A composição cinematográfica é muito menos manipulável que a palavra ou o som. Consequentemente, o mútuo trabalho de composição e montagem é, na realidade; uma ampliação em escala de seu processo, microscopicamente inerente a tôdas as artes. Entretanto, no filme, êste processo é intensificado em tal grau, que parece adquirir uma nova qualidade.
A tomada, considerada como material para fins de composição, é mais resistente que o granito. Esta resistência é peculiar a ela. A tendência da tomada para uma completa imutabilidade de factu está enraizada em sua própria natureza. Esta resistência tem possibilitado enormemente a riqueza e variedade das formas e estilos da montagem - pois a montagem torna-se o meio mais poderoso para um criativo remodular da natureza, deveras importante.
Daí, o cinema é capaz, mais do que qualquer arte, de descerrar o processo que se desenvolve microscopicamente em todas as outras.
O mínimo fragmento "distorcível" da natureza é a tomada; a habilidade em suas combinações é montagem.
Em todos limites normais, esses aspectos entram como elementos em qualquer estilo de cinematografia. Mas não estão em oposição, nem podem ambos substituir outros problemas – por exemplo: o problema do "argumento".

Jornal do Brasil
24/02/1957

 
Cinco poemas
vários autores Grandes poetas da língua inglesa do século XIX

Introdução, argumento e cap. I
Stéphane Mallarmé Igitur ou a loucura de Elbehnon

Canto I
Ezra Pound Os cantos

Canto II
Ezra Pound Os cantos

Canto III
Ezra Pound Os cantos

Alguns princípios básicos de cinematografia
Sergei Eisenstein Jornal do Brasil

Estilo e estilização
Bela Balazs Jornal do Brasil

Métodos de montagem
S. Timoschenko Jornal do Brasil

A poesia do filme
Roger Manvell Jornal do Brasil

Dois poemas de Ezra Pound
Ezra Pound Jornal do Brasil

Observações sobre o cinema
Susanne K. Langer Jornal do Brasil

O princípio cinematográfico e o ideograma
Sergei Eisenstein Jornal do Brasil

O princípio cinematográico e ideograma - parte II - conclusão
Sergei Eisenstein Jornal do Brasil

Historieta do Sonho ao Ar Livre
Federico Garcia Lorca Jornal do Brasil

Retrato de uma dama
William Carlos Williams Jornal do Brasil

42 registros
 
|< <<   1  2  3   >> >|