Entrou na agência do Banco, na hora de encerrar o expediente, subiu numa mesa do canto, sacou de imenso revólver e berrou com voz de barítono: "Levantem as mãos, isto é um assalto!" Os funcionários, tomados de pânico, ergueram-se com as mãos para cima; um cliente retardatário, começou a chorar convulsamente; uma velhota esganiçou um trinado e tambou no chão; o continuo deixou cair a bandeja de café no colo de uma mulher. "Onde está o gerente?" - indagou sacudindo a arma. Gaguejando, um dos funcionários respondeu: "es… es… está no no no ba… ba… banheiro". "Fazendo o quê?" - reindagou autoritário. Bagas pesadas de suor alagavam a cara do funcionário: "Já volta, já... já… volta". "Então, todos quietinhos, vamos esperar por êle para abrir o cofre, enquanto vocês aí, da caixa, recolham o dinheiro das gavetas e coloquem-no dentro dêste saco." Obedeceram ritmadamente.
Enquanto mantinham as mãos erguidas, examinavam o impávido assaltante solitário, ali, sôbre a mesa, em postura de estátua viril. Era alto, trocudo, bigodudo, com um chapelão de palha, torneado por fita vermelha. Os olhos eram frios e severos, as mãos, grossas, parecia ter cêrca de 45 anos. Usava termo azul-marinho desbotado e sapatões marrons de sola dupla. "Será gatuno ou subversivo?" - cochichou uma funcionária para outra. "Calem a bôca! Senão vão dançar no fogo!” - advertiu, enérgico, o assaltante. Tremeram as mãozinhas levantadas, uma delas chorava já e começou a gemer: "mamãe, mamãe!"
Enfim, emergiu o gerente, com as mangas da camisa arregaçadas, cantando La Violetera. Engoliu o castelhano ranheta, quando viu o vulto e o revólver: "Que deseja o senhor?" "Que desejo? O senhor pensa que sou palhaço? Quero que vá, já, já, abrir o cofre, ali, apanhe o dinheiro todo, todinho, e ponha neste saco - e depressa sem movimento em falso, senão mando brasa!". O gerente, tremendo, apanhou o saco e abria o cofre, enquanto os caixas apresentavam, sob o revólver, o outro saco, já entupido de notas. "Que coisa!" - murmurou um funcionário para outro - "êsse cara assaltando sozinho, e nós não conseguindo fazer nada". "Calada!" - berrou o bandido.
O gerente, contrafeito, veio arrastando o saco, algumas notas derramando-se no solo. Foi aí que se ouviram as sirenas. "Estamos salvos!" - sussurrou o continuo. "Ah! sempre essas sirenas!" - urrou o assaltante. Mas não fugiu, continuava com o revólver -em riste, estático. Afinal, entraram dois homens correndo - alívio -, mas não eram policiais. Gritaram para êle: "Vem logo, Euzébio". O gerente adiantou-se, ainda com as mãos para o alto: "Mas, senhores, êste homem está assaltando o banco". "Já sabemos, é o quinto assalto que êle realiza". "Mas, como?" "Somos do hospício, viemos buscá-lo, a sua mania é a de assaltar bancos". "Mas vejam o transtôrno que êle causou!" Os homens continuavam chamando Euzébio. "Está bem, vou descer daqui, mas, antes, deixem-me atirar no gerente". "Por favor, impeçam-no!" - o gerente já começava a soluçar. Os dois homens, parados em seus uniformes brancos. Euzébio avançou até o gerente, que ficara de joelhos, e acionou o gatilho. Um jato de água molhou a cara do outro. "Seu moleque!!", levantou-se furibundo, enxugando o rosto com o lenço. "E o senhor é um mal-educado, não tem fairplay" - retrucou, altaneiro, o louco, enquanto saía, abraçado com os dois.

Correio da Manhã
15/06/1969