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Xerloque da Silva

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Sinuca da morte

Atirou na bola cinco para matar na caçapa do meio, falhou no toque de efeito e suicidou. O matador, tranquilo, foi até a caçapa, tirou a bola cinco, equilibrou-a sôbre a marca, pegou a branca, foi para a meia-lua escolher a posição. A tarefa seria fácil. Passou giz no taco, depositou a pedrinha azul na borda da Tujague e sorriu: tôdas as bolas estavam nas respectivas marcas. Começou por matar a quatro no meio, dosando a fôrça a fim de que parasse de reta para a dois - bola da vez - em direção à caçapa do fundo. Tirou a quatro, recolocou-a na marca, matou a dois, seguindo, e pegou novamente a quatro de reta para o meio. Matou-a seguindo e parou de cara na três, retirou a quatro, matou a três seguindo, matou a quatro no meio, tirou-a, encaçapou-a agora no fundo, dando uma puxada para pegar a cinco de reta. Matou esta duas vêzes, na ida e na volta, fuzilou, num tiro sêco, a bola seis na caçapa do fundo, enquanto o parceiro atirava o taco sôbre a mesa, gritando: "Que azar! Que azar!". Continuou, ofegante, enquanto o matador ia lavar as mãos: "Fui suicidar numa hora daquelas, é defeito da mesa". Tragou o copo de cerveja, acendeu um cigarro, cuspiu, jogou-o longe. O matador - mulato fininho, baixinho, retornou do banheiro e êle, então, lhe disse: "Me dá uma estia". "Por quê?" Ora, ora, você teve sorte, além disso, o partido que me deu era muito pouco - só dez pontos com uma bola". "Estia nunca!" - disse o matador, apanhando três notas de dez numa das caçapas - "O jôgo acabou, você não tem mais dinheiro". O perdedor abriu o paletó e sacou, de uma navalha. Ia avançando contra o adversário, quando êste pegou a bola sete e arremessou-a contra a cara do agressor. Esquivou-se e a bola bateu violentamente nas costas de um maconheiro, na hora em que ia dar uma tacada decisiva. Êste virou-se, puxou de um revolver e fêz menção de atirar. O dono do bilhar, em desespêro de causa, apagou as luzes. A escuridão foi rachada pelo ruído de quarto tiros, seguidos de gritos e de uma saraivada de palavrões. Generalizou-se a rixa. Logo depois, a confusão nas trevas foi interrompida pela freada violenta de um carro da radiopatrulha. Todos, empurando-se, acotovelando-se, xingando-se, desceram pela escada dos fundos. Quando os polícias chegaram ao tôpo da escada da frente, diante do salão, o dono acendeu a luz em prantos e disse: "Vejam o que restou do meu estabelecimento". Bolas pelo assoalho, tacos quebrados, copos estilhaçados, panos verdes rasgados, molhados de cerveja. Ouviu-se um arranco de motor, os polícias voltaram e constataram: haviam roubado o próprio carro da RP, depois de deixarem o motorista, jogado no chão. Cercaram o quarteirão, acharam o matador decapitado. O carro foi encontrado boiando no Maracanã, com um homem morto e maconha espalhada. O salão de bilhares foi transfonnado em creche.

Correio da Manhã
14/06/1969

 
Fiscal fisgado
Correio da Manhã 14/01/1969

A mesma ilha
Correio da Manhã 15/01/1969

Bonnie sem Clyde
Correio da Manhã 16/01/1969

Imersão geral
Correio da Manhã 17/01/1969

Sinuca sangrenta
Correio da Manhã 18/01/1969

O homem-fome
Correio da Manhã 19/01/1969

Crime numa nota só
Correio da Manhã 22/01/1969

A receita do seu Zezé
Correio da Manhã 23/01/1969

A luta conjugal
Correio da Manhã 24/01/1969

O mistério do professor vermelho
Correio da Manhã 25/01/1969

Teatro Leve
Correio da Manhã 26/01/1969

O transplante
Correio da Manhã 28/01/1969

Idem idem
Correio da Manhã 29/01/1969

Cadê Zizi
Correio da Manhã 01/02/1969

Barulhinhos
Correio da Manhã 02/02/1969

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