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Xerloque da Silva

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A receita do seu Zezé

Cinco policiais, aproveitando o hiato da folga, sentiram-se atraídos para as letrinhas do Bar Caipirinha (Avenida Mem de Sá, 105), onde se anunciava o preparo de pastéis quentinhos e fresquinhos. A receita especial era do seu Zezé, pasteleiro e responsável pelo bar.
Ora, nestes dias de canícula, quem não pode tomar banho de mar toma banho de bar, ainda mais com o requintado acréscimo de pastéis "quentinhos e fresquinhos", já que, amiúde, os pastéis que se deglute por aí, além de não serem propriamente de carne, camarão ou queijo, mas, sim, de puro vento, vêm frios e fornecem aquela sensação desagradável de comestível guardado há muito; super-requentado. São raros os pastéis que estalam gostosamente à primeira dentada do freguês, e de cuja fenda emana aquele instigante bafo temperado.
Dito e feito, plantaram-se na mesa do estabelecimento do seu Zézé e, incontinenti, ordenaram os tais pastéis, que, já antedegustavam como uma dessas surpresas antológicas em matéria de frituras e massas, proporcionadas, às vêzes, pelos bares e restaurantes modestos. Seu Zezé, solícito, encaminhou o preparo, enquanto cercava os fregueses de gentilezas.
Chegam os pastéis e inicia-se, então, o singelo, mas ansiado, ritual gastronômico. A opinião dos cinco era unânime no sentido de que, realmente, os pastéis não desmentiam os atrativos anunciados. Mas, por outro lado, um sabor insólito, pouco a pouco, ia-lhes. ficando no céu da boca. A princípio, tudo parecia vincular-se a alguma bossa especial, quem sabe um condimento daqueles que só é admissível para uma elite de gourmets refinados. Logo depois, no entanto, à estranheza e ao esfôrço para apreciá-la seguiu-se a desconfiança. Os policiais sentiram que, mal ou bem, iriam entrar em serviço. Chamaram o Seu Zezé, identificaram-se e partiram rumo à cozinha, a fim de desvendar o segredo do sabor. A tarefa foi simples: em lugar dos óleos especiais de cozinha, lá estava uma lata de óleo diesel (e de caminhão!) que, econômicamente, os substituía na confecção dos pastéis originalíssimos. Desvendara-se o mistério.
Seu Zezé, evidentemente, está na cadeia, explicando agora a sua receita, tim-tim por tim-tim. Mas o pior é que, segundo consta, ela andou sendo difundida por outros. bares, com o maior êxito. Por isso é que, quando se vê pessoas saindo do bar, correndo ou meio tontas, não se trata, amiúde, de pressa nem de piléque. É puro óleo diesel.

Correio da Manhã
23/01/1969

 
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Correio da Manhã 14/01/1969

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