A obra de W. H. Auden
Wystan Hugh Auden é considerado um dos maiores poetas de língua inglesa nesse século. Escreveu também ensaios e peças, essas em colaboração com Christopher lsherwood, mas a poesia é o seu principal status. Os críticos mais voltados para a vanguarda ou para a criatividade em si certamente preferem a polêmica ou a invenção, em Pound, a mestria ou a imagética telúrica, em Eliot, a dicção e metáforas neo-elizabetanas, em Dylan Thomas ou Hart Crane. a síntese e as sutilezas rítmicas, em Marianne Moore ou William Carlos Williams, e, principalmente, os recursos de renovação especial-tipográfica ou fisiognomia vocabular, em E. E. Cummings.
Porém Auden - à margem da ebulição recriadora e, consoante as mutações de sua forma de pensar, mais preocupado com a temática do momento - permanece como um dos grandes versemakers da época. Aliás, é essa a crítica básica que fazem os adversários de sua obra: seria mais um versejador do que um poeta. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
W. H. Auden (é assim que assina seus livros) nasceu em York, em 21 de fevereiro de 1907, foi educado em Christchurch, Oxford, e tornou-se professor. Durante cinco anos lecionou num colégio de meninos, em Malvern. Em 1930 publicou seu primeiro volume de poemas e considerava T. S. Eliot como seu mestre.
Os anos de 1932-1933 foram os das antologias NewSignatures e New-Counfly, quando publicou seus poemas juntamente com outros poetas de tendências ideológicas semelhantes como Stephen Spender, Cecil Day Lewis, John Lehmann e William Empson, esse último também um dos maiores críticos modernos (Seven Types of Ambiguity).
Era o período de uma geração não só marcada pelos efeitos da Primeira Guerra Mundial, como pelas reivindicações sociais, dada a ascendência do marxismo. Mas também Freud. Auden, escritor de esquerda, ao consumar poeticamente a sua crítica político-social ("the English revolution / is the only solution", ou então, "hunger allows no choice / to the citizen or the police / we must love one another or die"- a fome não permite escolha / à polícia ou ao cidadão / devemos amar uns aos outros ou morrer), também absorveu os princípios da psicanálise.
Em 1938, foi para a América e naturalizou-se norte-americano. Em 1948, ganhou o Prêmio Pulitzer com seu livro. The Age of Anxlety - aí, já fundava os seus interesses psicológicos e sociais com a Angst típica do existencialismo de Kierkegaard. Em 1956, tomou-se professor de poesia em Oxford. A fase final de sua vida assinalou uma transição religiosa para
o episcopalismo.
Algumas de suas principais obras: Poems (1930); The Orators (1932); Lock, Stranger (1936); On the Time Being (1944); Collected Poems (1945); The Age of Anxiety (1948); The Shield of Achilles (1955); Collected Essays.
Na obra de Auden, comprova-se o domínio métrico, técnico, a leveza do seu contabile, a discreção formal coadunada com uma dicção em busca do mot juste flaubertiano. Daí, em vários momentos, conseguir alcançar aquilo que é alvo permanente de muitos poetas: a "emotion recollected in tranquility" (emoção captada na serenidade), da qual, um dos exemplos máximos, antológicos, é o poema "Oxford"- "and ahe is of Nature; Nature / can only love herself' ("e ela é da Natureza; a natureza / só a si própria pode amar").
Outra característica sua é a de ser um poeta com personalidades como tema, como se fossem, tais poemas, ensaios literários em forma epigramática. Lá estão, como motivo de seus versos, Voltaire, E. M. Foster, Melville, Matthew Arnold, Edward Lear, Freud, Pascal, Rimbaud, Henry James, Ernst Toller ou aquele que, além de ser também uma de suas influências, foi a figura mais importante do simbolismo na Inglaterra: William Butler Yeats.
Em memória desse último, post-mortem, Auden escreveu alguns de sues versos mais antológicos: "Oh, ali the instrumens agree; I the day of his death I was a dark cold day" ("Oh! Todos os instrumentos acordam / o dia de sua morte / foi um escuro dia frio").
Para o ensaísta G. S. Fraser, Auden é mais um poeta de definição do que de imagem. Já Alfred Alvarez compara-o com uma espécie de poeta-jornalista, que soube unir o sensacionalismo ao enfoque social: "Enquanto Eliot transformou a sensibilidade de sua época, Auden captou o tom da sua" . O mesmo Alfred Alvarez, apontando para a sua objetividade que não penetra nas coisas, disse que ele escreveu muito, como se o fizesse enquanto estava vestindo-se para o jantar.
Em seus ensaios, dedica-se a elaborar modalidades de máximas ou aforismos, a fazer lembrar a ironia de Oscar Wilde, no prefácio ao Retrato de Dorian Gray- exemplos: "alguns livros são imerecidamente esquecidos, nenhum é imerecidamente lembrado" - "O prazer não é, de modo algum, um orientador critério infalível; mas é o menos falho" - "o interesse de um escritor e o de seus leitores nunca são os mesmos; e se, em dada ocasião, ocorre a coincidência tratase de um acidente feliz".
Tido como o poeta inglês mais famoso da década de 1930, Auden, apesar das transições e da superação temática, ganhou com galas o seu posto na história da literatura. Encanto e competência.
Correio da Manhã
24/10/1971