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Sob as Ordens de Ubu, o Rei de Jarry

Um lançamento de interesse é Ubu Rei, de Alfred Jarry, na tradução de Ferreira Gullar. O Ubu Rei tem mais de 75 anos de presença, mas ainda é atualíssimo, mormente se fizermos a sua adaptação a muitas conjunturas do momento – a começar pelo princípio da autoridade...
A primeira representação da peça deu-se em 10 de dezembro de 1896, no Nouveau Théâtre, com os cinco atos precedidos de uma conferência do próprio autor. No papel do protagonista, estava o ator Firmin Gérmier e, além do mesmo Jarry, participaram da confecção do décor e máscaras nomes hoje famosos das artes plásticas como Bonnard, Yuillard e Toulouse-Lautrec.
Em sua edição sobre Jarry, soube Jacques Henry Leves que colocar a epígrafe extraída de Blaise Cendrars, a cair como uma luva: "o humor poético que é a arte de explodir o riso em pleno patético". Isso bem define Jarry, precursor do dadaísmo, para quem vida e arte eram mutuamente alimentadas. Boa fonte de esclarecimentos também para o espírito do poeta é o prefácio de Otto Maria Carpeaux para essa edição brasileira.


Jarry

Alfred Henri Jarry nasceu na cidade de Lavai, às cinco horas da manhã do dia 8 de setembro de 1873, filho de um homem de negócios. Realizou, em 1888, aos quinze anos, o primeiro esboço de Ubu Rei, inspirado na figura grotesca de P. Hébert, um professor de física do Liceu de Rennes, que, naquele ano, começara a frequentar. Em 1894, tem editado, pela Mercure de France, o seu primeiro volume, Les minutes de sable memorial - poesias.
Colaborou em diversas revistas, havendo mesmo fundado duas delas, L'ymagier (esta juntamente com Rémy de Gourmont) e Perhiderion. A sua obra foi bem ampla e variada, embora houvesse morrido aos 34 anos. Além do ciclo Ubu (Ubu enchainé; Ubu sur la butte; Ubu cocu; Almanachs du Pere Ubu, com alphabet du Pere Ubu) e dos poemas em verso, é o homem da patafísica e dos romances, dos teatros, das óperas, auto-ilustrador de verve e imaginação, embora sua obra houvesse contado com a colaboração de grandes artistas, entre eles Picasso.
Jarry morreu na rue Jacob, às quatro horas da tarde do dia primeiro de novembro de 1907. Entre outros, acompanhando seu enterro, figurava Paul Valéry, cujo mestre, Mallarmé, foi dos primeiros a reconhecer os méritos de poeta, em Jarry, na ocasião da estréia histórica do Ubu Rei. E Jarry, por seu turno, admirador do mestre do simbolismo (escrevera L'ile de ptyx, dedicado a este) e coerente consigo mesmo, havia, antes, acompanhado, de bicicleta, o enterro de Mallarmé.
Jarry, o homem-revólver - não apenas por ter gostado de se divertir com tiros, mas pela conduta de choque adotada frente a inúmeros acontecimentos, importantes ou prosaicos. Assim como Lautréamont, surrealista avant-la-lettre, foi dadaísta desde o fim do século XIX.

Delírio e patafísica

O escândalo, como arma versus a hipocrisia institucionalizada. Um dia, a vizinha bateu-lhe à porta a fim de reclamar dos tiros que ele dava à esmo, com a pistola em punho, no jardim, porque podia até matar um dos seus filhos. Respondeu: "não faz mal, minha senhora, se os matar, farei outros".
Um dia, num café, achou de mau gosto o cachimbo de determinado frequentador e, incontinente, sacou do revolver e atirou, visando partir do objeto. Errou e a bala varou o espelho lá no fundo. No meio do pânico e da confusão, voltou-se para uma mulher sentada em mesa ali perto e deu uma de Groucho Marx: "agora que o espelho se partiu, vamos conversar".
O seu assim chamado "romance moderno", Le surmâle (O Supermacho), publicado em 1902, é considerado como uma de suas melhores obras. Narra os eventos por antecipação, isso é, a ação se desenrolando em 1920. Previa já a tremenda influência da máquina para aquela época. Delírio erótico, pré-dadá, pré-surrealista. O herói do romance, André Mareveil, bate o recorde de Teófrasto, repetindo o ato sexual 82 vezes seguidas. Dirigindo a bicicleta, numa prova de dez mil milhas, derrota um trem e um quinteto de campeões de ciclismo. Faz com que se tome apaixonada por ele a "máquina de inspirar amor", que havia sido construída com o objetivo precípuo de enfrentar a resistência priápica do protagonista. Isso já era antecipação do que se passou a ler, posteriormente, nas histórias em quadrinhos, em matéria de super; e, por extensão de produtos e propaganda, da civilização industrial. O Supermacho vem entremeado com versos de rima-surpresa, invocações mitológicas, em suma, também o lirismo de um poeta notável.

Estilo

A técnica da logopéia ("a dança do intelecto entre palavras") que fez a glória de Laforgue, vinha também inscrita em sua poesia: "sua assinatura / segue o caminho / sobre a natura / do pergaminho" - exemplo extraído de "Tatane", um dos seus poemas mais famosos, "canção para enrubescer os negros e glorificar o Pai Ubu". Expert em assonâncias e aliterações passeando pelos alexandrinos em La regularité de la chasse: "chasse claire ou s'endort mon amour chaste e cher" ("claro relicário onde dorme meu amor casto e caro"); "voler vers !e ciel vain les voix vagues des vierges" ("voar para o céu vão as vagas vozes das virgens").
Hoje, a obra de Jarry tem o devido reconhecimento. O futuro acaba de ser ferido com os tiros do passado.

Correio da Manhã
21/05/1972

 
G. S. Fraser "The modern writer and his world" - Criterion Books
Jornal do Brasil 18/08/1957

Sophokles – “Women of trachis”
Jornal do Brasil 03/11/1957

Piet Mondrian
Jornal do Brasil 01/12/1957

The Letters Of James Joyce
Jornal do Brasil 12/01/1958

O poema em foco – V / Ezra Pound: Lamento do Guarda da Fronteira
Correio da Manhã 05/10/1958

Erza Pound, crítico
Correio da Manhã 11/04/1959

Uma nova estrutura
Correio da Manhã 31/10/1959

"Revista do Livro", nº 16, Ano IV, dezembro de 1959
Tribuna da Imprensa 13/02/1960

E. E. Cwnmings em Português
Tribuna da Imprensa 04/06/1960

O último livro de Cabral: “Quaderna”
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Cinema e Literatura
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A Grande Tradição Metafísica
Correio da Manhã 05/05/1962

Reta, direto e concreto
Correio da Manhã 06/06/1962

A Questão Participante
Correio da Manhã 18/08/1962

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