Um tradutor e estudioso prestigiado, José Lino Grünewald destrincha o poeta Stéphane Mallarmé
Um dos fundadores do movimento concretista, que culminou com a poesia concreta, na década de 50, causando muita polêmica e revolucionando a poesia brasileira, num gesto de vanguarda mundial, e prestigiado mestre no ofício de traduzir e interpretar os mais importantes poetas do planeta, elogiado inclusive por escrito pelo famoso Roman Jakobson em uma das vezes que este o visitou em seu apartamento em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, José Lino Grünewald é uma pessoa tímida e avessa a badalações. Em fevereiro completa 60 anos, mas não está dando a mínima para isso. Ele gosta mesmo é de se reunir diariamente em um bar-restaurante do bairro com seus velhos amigos, “todos conservados no álcool”, conforme diz, brincando, com seu riso baixinho e zombeteiro. Igualmente gosta de traduzir obras-primas primordiais, como o livro Poemas, da obra do simbolista francês Stéphane Mallarmé (1842 – 1898), que está sendo lançado pela editora Nova Fronteira.
O volume, de 132 páginas, é bilíngüe, traz 16 poemas no original, entre eles os consagrados “Brinde”, “Um lance de Dados” e “Igtur”, em prosa. José Lino faz a introdução oferecendo ao leitor uma chave para compreensão do hermético Mallarmé, permite, numa atitude de que sabe que realizou um trabalho primoroso, a confrontação do original com sua interpretação e analisa a concepção, época em que foram criados e publicados cada um dos seus poemas, com trechos de estudos de especialistas na obra do autor e comentários sobre os procedimentos da tradição.
Graças a essa trabalho, que vem fazendo desde 1986 para editora Nova Fronteira, José Lino ganhou dois prêmios Jabuti, em 1987, com Os Cantos, de Ezra Pound, um livro de 837 páginas, e em 1989 pela coletânea Grandes Poetas Ingleses do Século XIX, na série Poesia de Todos os Tempos. Outra de suas paixões é a música. Ele tem discos do início do século, a maioria de ópera e fado, além da velha guarda nacional, e quase tudo de Carlos Gardel e de Francisco Alves, beirando cerca de 800 gravações de cada um em 78 rotações. Quanto à música popular atual, José Lino detesta rock (sem saber de quem se tratava, ele disse isso para o titã Arnaldo Antunes, seu fã, e que fora buscar um poema dele para um trabalho), afirma que tem horror a Djavan e despreza as músicas em inglês do amigo Caetano Veloso.
Tampouco lê romances contemporâneos, fuzila um outro amigo, Affonso Romano de Sant’ana, afirmando que é um poeta de circunstâncias, e garante que poemas iguais aos da Adélia Prado ele faria uma dúzia por dia, se quisesse. O único elogio que faz, e rasgado, é, por incrível que pareça, para um jovem poeta brasileiro. O rapaz, Alexei Bueno, tem 27 anos, trabalho em um livraria de livros raros e usados no centro do Rio e, segundo o afiado senso crítico de Grünewald, será o maior poeta do País.
Correio Braziliense
05/04/1991
