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Métodos de montagem

S. Timoschenko

Quando se designa, com a expressão sistema ou tipo de montagem, determinado método de combinação e encadeamento de várias imagens, torna-se claro que cada um dêsses tipos de montagem, baseado em certo principio, constitui fruto da necessidade de produzir um ou outro efeito específico. Tal necessidade exige, em cada um dos casos, uma composição especial dessas imagens.
O trecho onde se empregará determinado sistema de montagem é, desde logo, fixado pelo diretor através do roteiro - segundo o plano concebido pelo mesmo para a estrutura do montagem. Os processos qe montagem, pelo menos no que se refere aos mais singelos e típicos, são fáceis de enumerar. Ao mesmo tempo, é possível estabelecer as verdades gerais e as conclusões, válidas como lei para a estrutura do montagem e para a composição de quadros contíguos.
Os métodos de montagem mais frequentes e habituais são os seguintes:
1 - Mudança de local
2 - Mudança de colocação da câmera
3 - Mudança de ângulo
4 - Realce do detalhe
5 - Montagem analítico
6 - Visão do tempo passado (Reminiscência)
7 - Visão do tempo futuro (Presságio)
8 - Ação paralela
9 - Contraste
10 - Associação Simbólica
11 - Concentração
12 - Ampliação
13 - Montagem monodramático
14 - "Estribilho"
15 - Montagem dentro do quadro

1 - Mudança de local é o método mais simples e mais frequentemente empregado.
Consiste em que a um quadro, cuja ação se desenrola em determinado lugar, segue um outro, cuja ação se desenvolve em lugar diferente, ou então quando o quadro desenrolado em certo local fica dividido, através da intercalação entre ambas as partes de uma tomada cuja ação se passa em ponto diferente.
Uma regra básica para o emprêgo da mudança de local:
1º - no caso de que não exista um título que nos indique depois de quanto tempo ocorre a açao no novo local, o espectador terá a sensação de que a mesma se desenvolve diretamente a partir da ação focalizada no primeiro quadro.
2º - uma máxima muito Interessante nos indica Bela Balazs em seu livro "O Homem Invisível": "Quanto mais afastada do ponto onde se passa a cena principal ocorrer a cena intercalada, tanto mais ampla será a ilusão do tempo desperta em nós. Mas, quando o quadro intercalado nos leva a outra cidade ou a outro país, e mesmo que o fôsse pelo momento mais breve, nos suscitará a ilusão de um intervalo de tempo tão grande que imediatamente ser-nos-á impossível situarmo-nos novamente na cena anterior no lugar da ação principal." E, como acrescentação nossa, nos veremos na obrigação de mostrar uma nova passagem em que o espectador compreenda como um desenvolvimento muito posterior da cena principal, exibida antes da intercalada.
3º - para eliminar material supérfluo, devemos, ao nos utilizar da mudança de local e quando o mesmo lugar surge repetidas vêzes na película, apresentar tantos menos planos totais dêsse lugar quanto mais longe fôr o desenvolvimento da fita, para, dêsse modo, concentrar a atenção do espectador apenas nos primeiros planos, os quais exibirão unicamente partes essenciais ou detalhes da ação que transcorre nos lugares já conhecidos.

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2 - A mudança de colocação da câmera é também muito simples e frequente. Consiste em que, dentro de quadros de montagem contíguos, a ação pode desenrolar-se na mesma localidade e ser filmada com o mesmo desígnio e somente variam os pontos de vista do objetivo (os eixos do ângulo visual da câmera).
Essa modalidade de montagem é usada quando, a um plano total, seguem cenas parciais, filmadas através de diferentes locais: ângulos do décor, quadros da natureza, grupos, caras; o que é expresado concretamente: sala de um teatro, o público dos camarotes e o das galerias etc. Agregar trechos parciais a um plano geral, se constitui num dos recursos particularmente eficazes do montagem.

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3 - A variação de ângulo se trata, como já o disse sua denominação, da sucessão de quadros de montagem de determinada ação ou do mesmo momento, com a única diferença de serem tomados por ângulos diversos.

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4 - O método de montagem chamado de "realce do detalhe" é uma variante do precedente (nº 3).
A uma cena filmada através de determinado ângplo, segue outra com angulação muito mais próxima que a primeira, mostrando-nos um nítido detalhe da ação.
A aparição do detalhe pode ter sido preparada ou pode ser imprevista. No primeiro caso, já se nota o detalhe no plano geral que antecede, ou o mesmo é apresentado dentro da cena. No segundo caso, o detalhe não é acentuado no plano total.
A exibição preparada do detalhe funciona, na maioria das vêzes, como recurso para reforçar o efeito dramático. A inesperada serve, por outro lado, para reforçar o efeito
cômico.

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5 - O montagem analítico é aquêle no qual não se mostra ao espectador a ação inteira e sim uma série de detalhes e cenas em diferentes "shots", que compõem justamente a referida ação.
Mediante a utilização de tal sistema de montagem, o diretor realiza, de certa maneira, a análise das partes da ação, a fim de que o espectador, por intermédio da síntese dêsses aspectos parciais, chegue a imaginar o entrecho total.
Para uma correta aplicação do montagem analítico, deve-se bem observar que:

1º) já que a duração dos disferentes "shots" é muito reduzida e que o espectador tem que acompanhar, destarte, com a máxima atenção a rápida permuta das imagens, fatigando sua vista e obrigando-o a realizar um considerável esfôrço físico, tal modalidade de montagem deve somente ser empregada em passagens muito importantes da película e não com demasiada frequência;

2º) uma sequência narrada através de tal sistema, terá sempre uma duração mais ampla do que vista em forma continua e em plano geral; todavia, essa distribuição do entrecho por muitos detalhes esparsos, êsse alargamento do tempo é percebido pelo espectador como uma aceleração do mesmo, devido ao ritmo rápido das múltiplas imagens.

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6 - O método de montagem, denominado “visão do tempo passado" (reminiscência), consiste na combinação de tomadas: na primeira percebe-se o seu desenvolvimento no presente, enquanto na segunda, no passado.
A pessoa que assiste é transportada a uma época anterior, e, como condição para tal, tem que levar em conta o seguinte:
Quando não existe um título que denote a passagem do tempo para uma época precedente, torna-se necessário que o lugar e a ação da cena transcorrida em tempo anterior, tenham sido apresentados numa passagem precedente do filme. Somente nesse caso a segunda cena será apreciada como tendo ocorrido "a priori". Dito de outro modo: a uma cena que deverá ser julgada como sucedida no passado, é mister que já tenha sido antes apresentada na pelicula, caso não exista um título explicativo. A repetição representará então um movimento retrógrado no tempo. Porém, malgrado o exposto, existem quadros de montagem que - sem que tenham sido exibidos previamente, - são julgados como ocorridos anteriormente (acontece nas cenas de reminiscência: alguém se reconcentra ansiosamente; o "ecran" se dissolve; através da zona circular, liberta pelo diafragma, nasce uma cena que é apreciada como pertencente ao passado), isto se deve a que a composição do "tak" representa por si mesma o esfôrço de meditar do personagem e o diafragma desempenha o papel do título, que diria: "Estava recordando..."
No que concerne a um montagem puro, quer dizer, a união de quadros de montagem sem imagens explicativas intercaladas, o tempo passado se expressa mediante repetição.

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7 - O método chamado "Visão do Tempo Futuro" (presságio) consiste em que um quadro situado em certa época sucede a outro, cuja ação ocorre muito mais tarde.
Não havendo um título que indique se tratar de um período futuro, devemos compor o quadro de modo a que se desenvolva no porvir, ou seja, que denote claramente a transformação das circunstâncias e dos traços faciais dos atores; de outra forma, o entrecho não será apreciado como situado em um período posterior, senão, pelo contrário, como de sucessão imediata.
No tipo de montagem."visão do tempo futuro”, o conteúdo do quadro que segue à realidade não irá representar a continuação direta da ação em curso no tempo presente, senão determinada conclusão, certa consequência da mesma que, do ponto de vista do espectador, é esperada como provável e lógica de acôrdo com a sequência assistida primeiramente.

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8 - A "ação paralela" é um processo empregado de preferência por Griffith e seus sucessores, os realizadores norte-americanos.
Trata-se da sucessão alternativa de quadros de montagem de uma determinada ação com outros de entrecho diferente, com o qual se produz a impressão de simultaneidade entre ambos.
No caso. de que o enquadramento da montagem precedente e o que vem posteriormente sejam partes do mesmo pedaço de celulóide (que se refere a um só lugar e, desde logo, à mesma ação) consegue-se isso eliminando uma parte dêsse pedaço, correspondente ao lapso transcorrido entre os "quadros de montagem", precedente e subsequente; ao mesmo tempo se obtém o efeito almejado quando o "quadro de montagem" subsequente de certa ação é um fragmento de uma tomada distinta.
Para a condução paralela do entrecho deve-se sempre ter em conta uma observação muito importante de Bela Balazs: "Na ação paralela são divergentes o ritmo das imagens e o dos acontecimentos. Nas realizações de Griffith podemos perceber uma técnica especialmente refinada para o processo de condução paralela quando chegam os acontecimentos na iminencia da catástrofe. O ritmo dos acontecimentos parece deter-se em tôdas as partes. O ritmo das imagens, pelo contrário, é cada vez mais entrecortado e veloz. As imagens se fazem cada vez mais breves e rápidas e, mediante seu ritmo, levam os sentimentos até a máxima emoção. Porém, a ação propriamente dita não prossegue e esta situação de potrer instante, onde se começa a conter o impulso, se estende às vêzes por todo um rôlo".


9 - O montagem, do Contraste consiste numa combinação tal de quadros, que dois contíguos, embora iguais no que concerne aos elementos constitutivos de sua aparição visual, são opostos em seu conteúdo espiritual (1).
Para esse tipo de montagem torna-se necessária uma exata coincidência das imagens alternativas. A disposição do material, o enquadramento, o ponto de vista de cada um dos quadros devem ser idênticos ao do seguinte.
Somente quando a composição dos quadros alternados fôr a mesma, é que surgirá o efeito de contraste, que nesse caso (contraste de conteúdo espiritual) possuirá a meaxima fôrça.

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1. É possível, também, que os quadros sejam de aparência visual oposta e de igual conteúdo espiritual. Nessas condições, teríamos algo assim como um contraste exterior, em contraposição com o interior, proporcionado aqui pelo autor.

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10 - O método de Associação Simbólica é a união de quadros de montagem de tal maneira que dois consecutivo - diferentes no que tange ao material que contém e às suas respectivas visualizações - produzam no expectador o efeito de possuírem idêntico conteúdo intrínseco.

11 - A Concentração se obtêm mediante a união de quadros de uma mesma cena onde pouco a pouco vai aumentando o tamanho do que está contido no quadro. Através dessa mudança de enquadramento - de menor a maior - a atenção do expectador é concentrada sôbre certa parte da cena, que, finalmente, é apresentada, só, no grande primeiro plano.
Em virtude do mencionado aumento de dimensão dos objetos no quadro e, por conseguinte, a aproximação do expectador a determinada parte do conjunto, a atenção dêste é precisamente concentrada sôbre essa parte; por outro lado, sabedor a que cena geral pertence o dito fragmento, chega à conlusão de que exatamente êsse fragmento se constitui no assunto essencial e de que deve fixar a atenção nele.
Para esse tipo de montagem, é de suma importância que, em todos os quadros correspondentes a uma mesma cena, nlio obstante os diferentes enquadramentos, o ponto para o qual é dirigida a atenção se encontre justamente no centro de composição da imagem.

12 - O método de montagem da Ampliação se trata de extremo diametralmente oposto ao anterior. Em tal caso a focalização varia em sentido contrário do primeiro plano ao geral.
Com êle se amplia o campo de visão da assistência. Depois de se ver o detalhe da cena, através de tomadas gradativamente mais amplas, tem-se conhecimento da cena inteira. O detalhe serve para prender o interêsse pela mesma e por outro lado determina a composição do plano geral cuja base formou.
Nesse tipo de montagem devemos imprimir no primeiro quadro um conteúdo que caracterize clara e precisamente o objeto essencial dos subsequentes. (A roleta no cassino, a garrafa de vtnho do bêbado etc.)

13 - O Montagem Monodramático se constitui numa cena, na qual o personagem principal vê, ouve ou sente algo, seguida de outra que reproduz as sensações próprias do personagem, através de seu ponto de vista. Enxerga-se, portanto, mediante os olhos do intérprete.
Tal processo é de especial importância nas poucas cenas que devem exercer no ânimo do expectador um efeito de forte emoção, a fim de sublinhar os acontecimentos principais vividos pelo herói em ação.

14 - O método do Estribilho consiste na frequente repetição de um mesmo quadro durante o transcurso da película, constituindo tal repetiçao não numa continuação do entrecho ou então reminiscência (visão do tempo passado), senão algo assim como um estribilho que se repete, sublinhando a mútua relação interior entre as partes da fita, reduzindo, de certo modo, as mesmas a um denominador comum e criando para o expectador uma pista que lhe sirva de ponto de partida para a compreensão das mencionadas partes diferentes.
Esse processo é, no fundo, outra versão dos métodos Associação e Contraste, somente que, enquanto as imagens relacionadas mediante contraste ou associação com certo quadro variam continuamente, o quadro de montagem em questão permanece imutável.

15 - Como último dos métodos básicos de montagem, temos o montagem dentro do quadro.
Aqui, o enlaçamento e a sucessão de um número de cenas diferentes não se consegue mediante a passagem alternativa através de diversos quadros, e sim pelo paralelismo de duas ou mais tomadas superpostas no mesmo quadro. Tal processo é empregado para a expressão de reminiscências, sonhos, para a ação paralela, para o estribilho etc.
Uma passagem de um filme não se compõe, nesse caso, de trechos de montagem soltos, consistindo, ao contrário, em um só quadro, dentro do qual aparecem simultâneamente cenas filmadas separadamente, que se desenvolvem e se desvanecem, tendo lugar sua aparição e sucessão dentro dêsse mesmo e único quadro.
O método de montagem dentro do quadro possui grande importância no sentido de reforçar a impressão de um conflito emocional.

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Expus aqui os métodos fundamentais para a montagem das películas. Está implicito que cada um dos diretores empregará, de acôrclo com suas proprias individualidades, maior ou menor quantidade de cada um dêsses métodos e que, modificando-os de um ou de outro modo, criará com eles novos processos que ainda espera que os explore e os invente o teórico de cinema.
O estudo dos métodos de montagem apresentará novos caminhos e nova possibilidades técnicas para a estruturação das peliculas, proporcionará a possibilidade de enunciar e solucionar corretamente os problemas da arte cinematográfica e também ele formular os principias de composição para quadros contíguos.

Jornal do Brasil
28/04/1957

 
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