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Foi um Rio

A explosão de Foi Um Rio que Passou em Minha Vida evidencia a vitalidade da verdadeira música popular (aquela que brota de fatores culturais do próprio povo, dando, aqui, à palavra povo a sua acepção restrita, do criador não intelectualiza ou sofisticado). Já pode ser classificado como um dos maiores sambas do nosso cancioneiro, devida à força melódica e riqueza da letra (que escorre como um rio) e, last but not least, ao conjunto dos Cinco Crioulos que o interpreta. Aí está o verdadeiro hino lírico da Portela (que, alias, celebrou a sua última vitória neste carnaval cantando Foi Um Rio e, não, a música-enredo), assim como, por exemplo, Semente do Samba, na interpretação fabulosa de Clementina de Jesus, a maior cantora popular viva (e, talvez, entre as mortas ou for a de cena, só Carmem Miranda ou Elisa Coelho ombreiam com ela) possa ser o hino atual de Mangueira.
Lamentável é que nos FICs e adjacências existem poucas oportunidades para composições tipo Foi Um Rio que Passou em Minha Vida, entregues ao experimentalismo inócuo, à importação de “bossas”, ao happening, que nada tem a ver com canção, ou à praga do subtropicaetanismo, surgida numa velocidade pouco velosa. Caetano é o próprio e basta – realiza uma espécie de substrato cultural da nossa MPB e, através dele, procura refletir as contradições de seu tempo. Opera, em muitos casos, ao nível de metalinguagem; é até mais para ser meditado do que para ser ouvido. A emoção fica a cargo do zé povinho, em cuja faixa de atuação o conceito de processo é algo muito mais lento e relativo do que se possa imaginar. E, como maiores defensores atuais, estão Paulinho da Viola e os Cinco Crioulos (Elton, Anescar, Nélson Sargento, Mauro, Jair) egressos quase todos do time da Rosa de Ouro, que, com o impulso de Hermínio Belo de Carvalho e o concurso de Araci Côrtes, Clementina de Jesus e outros, legaram, além do show, dois elepês básicos, com criações novas outras antigas, magistralmente revividas.
A melodia não acabou nem, evidentemente, acabará tão cedo. Certo também que a produção não-popular, a partir da Bossa Nova (Tom e João Gilberto, Caetano, Gal, Gil, Jorge Ben) é do maior interesse, ao lado do populismo mais sofisticado de Chico Buarque ou Roberto Carlos. Mas, isto, é algo de paralelo e, nunca, superior à vox populi no ritmo da caixa de fósforos.

Correio da Manhã
10/03/1970

 
Vogeler: resposta do tempo
Correio da Manhã 19/11/1964

Orestes: Poesia e Seresta
Correio da Manhã 16/12/1964

Benedito Lacerda: ou A Flauta de Prata
Correio da Manhã 30/12/1964

Cândido das Neves “Índio”: seresteiro da cidade
Correio da Manhã 06/01/1965

Joubert de Carvalho: o criador de "Maringá"
Correio da Manhã 10/02/1965

Carlos Galhardo: O Homem da Valsa
Correio da Manhã 10/03/1965

Freire Júnior: tempo de serenatas
Correio da Manhã 17/03/1965

Augusto Calheiros: A patativa do Norte
Correio da Manhã 31/03/1965

Cascata: Jorrar de Bossa
Correio da Manhã 07/04/1965

Patrício Teixeira: da modinha ao carnaval
Correio da Manhã 21/04/1965

Eduardo Souto: Manancial de Música
Correio da Manhã 20/05/1965

Heitor: prazer do samba
Correio da Manhã 05/10/1966

Estética do Fado
Correio da Manhã 14/05/1967

Samba: glória do malandro
Correio da Manhã 28/07/1967

Foi um Rio
Correio da Manhã 10/03/1970

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