jlg
literatura

  rj  
A letra e a poesia

Há muito, cessou o preconceito contra a existência de elementos estéticos na assim chamada música popular. Principalmente na fase atual, quando as letras (não só as pesquisas harmônicas e de novas sonoridades) ainda ganharam maior refinamento, maior intelectualização, com exemplos como Georges Brassens, os Beatles, etc. O mesmo ocorre evidentemente aqui com o nosso cancioneiro.
Hoje em dia, não seria absurdo colocar Noel Rosa, Orestes Barbosa, Cândido das Neves “Índio”, Jorge Faraj, até mesmo Sinhô, numa antologia de versos nacionais. tudo em matéria de lirismo, sátira, linhagem barroca, etc. Se é verdade que mesmo a maioria das boas letras existe em função da faixa sonora, a expressão poética não deixa, porém, de se manifestar. Noel, principalmente, nem requer a garimpagem de pedras de toque - oferece composições inteiras antológicas, ex-vi estrutura de imagens e sons, sabor de logopéia, a começar pelo Positivismo, feiro em parceria com Orestes Barbosa. Deste, basta recordar
Chão de Estrelas, de unidade absoluta e cujo verso, magistral decassílabo - “tu pisavas nos astros distraída” - já foi há muito glorificado por Manuel Bandeira e outros. Cândido das Neves deu à seresta o delírio de volutas imagéticas de uma espécie de rococó primitivo, no que em parte, foi seguido pelo próprio Orestes, sem falar em Uriel Lourival, autor do imortal Mimi.
Exemplo mais recente e típico da expressão puramente poética, isto é, aquela que age sobre a linguagem, mesmo que, em grande parte, à força da mera intuição, constitui o já antológico Foi um Rio que Passou em Minha Vida, de Paulinho da Viola. No intróito dos primeiros versos, o poeta fala na hipótese de consulta ao coração que tem “mania de amor” que é “difícil de achar” e, logo em seguida, ao mencionar a “mágoa dos meus desenganos” repete duas vezes o verbo (ficou, ficou). Essa repetição é funcional e concretiza exatamente a ideia do ficar. Depois vem o hiato para o êxtase, enquanto “carregava” uma tristeza (o verbo lançado com a surpresa da carga expressiva), que é a identificação da Portela (a escola de samba) com a amada, o amor. A partir desse momento, o fluxo alusivo ganha a intensidade decisiva: Portela, a amada; e o autor não pôde definir “aquele azul, não era do céu, nem era do mar”. O azul é justamente a cor da Portela. E, enfim, a frase-chave-título - “foi um rio que passou em minha vida” - ou seja, o rio como o desfilar da Portela. Em paralelo, emerge, assim, o verso mais longo de todos, o dizer mais demorado, a fim de dar a ideia do rio-desfile.
E, assim, o verbo se fez novamente popular. É preciso que as nossas futuras antologias poéticas percam a timidez e deem lugar também aos compositores.

Correio da Manhã
28/01/1971

 
G. S. Fraser "The modern writer and his world" - Criterion Books
Jornal do Brasil 18/08/1957

Sophokles – “Women of trachis”
Jornal do Brasil 03/11/1957

Piet Mondrian
Jornal do Brasil 01/12/1957

The Letters Of James Joyce
Jornal do Brasil 12/01/1958

O poema em foco – V / Ezra Pound: Lamento do Guarda da Fronteira
Correio da Manhã 05/10/1958

Erza Pound, crítico
Correio da Manhã 11/04/1959

Uma nova estrutura
Correio da Manhã 31/10/1959

"Revista do Livro", nº 16, Ano IV, dezembro de 1959
Tribuna da Imprensa 13/02/1960

E. E. Cwnmings em Português
Tribuna da Imprensa 04/06/1960

O último livro de Cabral: “Quaderna”
Tribuna da Imprensa 06/08/1960

Cinema e Literatura
Correio da Manhã 07/10/1961

Um poeta esquecido
Correio da Manhã 24/03/1962

A Grande Tradição Metafísica
Correio da Manhã 05/05/1962

Reta, direto e concreto
Correio da Manhã 06/06/1962

A Questão Participante
Correio da Manhã 18/08/1962

165 registros
 
|< <<   1  2  3   >> >|