Faber and Faber – London, 1957 – 327 págs.
Constituindo-se numa valiosa coleção de documentos, "As Cartas" são, ao mesmo tempo, indubitável foco de atenção para todos os interessados em assuntos joyceanos. Nelas encontraremos uma série de novos detalhes referentes à elaboração de alguma obra, informações a respeito de diversos problemas pertinentes à esfera de ação do autor e que muito contribuem para dirimir certas dúvidas, solucionar impasses que às vêzes surjam aos olhos dos estudiosos.
Da mesma forma que o fêz com relacão às missivas de Ezra Pound, a Faber and Faber apresenta a coleção de Joyce numa edicão muito bem encadernada e sob a responsabilidade de Stuart Gilbert, êste, sem dúvida, uma das maiores autoridades existentes sôbre o grande romancista. Particularmente no que concerne a "Ulysses", Gilbert pode mesmo ser considerado o mais profundo conhecedor, o intérprete melhor aparelhado e municiado existente, assim como o são a dupla Campbell e Robinson no que se refere a "Finnegans Wake".
O presente volume contém uma introdução, narrando vários aspectos da vida e obra do escritor irlandês, uma nota a respeito da edição, com o nome das pessoas que para ela colaboraram diretamente, um apanhado cronológico da existência de James Joyce, levado a efeito por Richard Ellman, uma fotografia de 1924 do escritor, espôsa e dois filhos, dois fac-similes de cartas suas e o índice de todo o material que faz parte do livro, desde a primeira missiva, redigida em 1901, dirigida ao grande teatrólogo Henrik Ibsen, na qual Joyce se manifestava em têrmos de elevada reverência, até a derradeira, enviada em 20 de dezembro de 1940, ao prefeito de Zurich, cidade na qual o autor de "Ulysses" viria a falecer em 13 de janeiro de 1941.
Como já foi acima frisado, "The Letters" se caracterizam como um fértil repositório de dados e informações sôbre as múltiplas facetas da obra de um dos maiores escritores do século atual. Aqui também se comporta um amplo testemunho relacionado com a série de vicissitudes encontradas pelo autor a fim de conseguir obter meios de publicação para seus escritos e maiores facilidades de trabalho. Aparece em foco a personalidade de Ezra Pound que muito auxiliou a Joyce para que tivesse alguns de seus trabalhos lançados a público no início de sua carreira. Pound é diversas vêzes mencionado e, numa das cartas a êle dirigida, J. J. trata de sua única peça, "Exiles", e se mostra desejoso da opinião de Yeats a respeito da mesma.
Em outra importante carta, datada de 3 de setembro de 1920, remete a John Quinn o seu esquema de "Ulysses", com 18 episódios.
Um grande montante das "letters'' é endereçado a Harriet Shaw Weaver. No que tange a essa parte, recrudesce o ponto de interêsse, pois trata-se de um paulatino desenrolar de uma série de planos e esboços de suas criações de maior fôlego. "Finnegans Wake", a sua fabulosa criação, o mais importante romance contemporâneo, ocupa várias passagens como o assunto principal, especialmente se levarmos em conta que J. J. dispendeu largo tempo de vida em sua confecção - começou a escrevê-lo em Nice, em 1923, e somente veio a terminá-lo em Paris, em 1938. Porém, enquanto não estava finda a obra, o autor pouco a pouco ia publicando trechos, sob o título de "Work in Progress". Nas cartas, comenta sempre algumas passagens que estão a preocupá-lo e, em determinados momentos, fornece dados de inestimável valia para o esclarecimento de certos trechos. Destarte, numa daquelas a HSW, datada de 15 de novembro de 1926, apresenta o princípio do romance e explicações sôbre as fontes e/ou recursos empregados para diversos têrmos, fusões de palavras etc. E, numa troca de opiniões, se consiste uma boa parte do contato com HSW, onde muitas vêzes vamos encontrar JJ atencioso, mas firme em seus propósitos. desprezando até a opinião de Pound, que justamente não compreendera a sua evolucão.
Entre outras figuras famosas que aparecem neste volume, em correspondência com o romancista irlandês, estão o próprio Stuart Gilbert, T. S. Eliot, W. B. Yeats, Valery Larbaud, Louis Gillet, autor de "Stèles pour James Joyce", e Carola Giedion-Welcker, autora da importante antologia dos marginais.
Jornal do Brasil
12/01/1958
