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Som e signo

A palavra é essencialmente ambígua? A primeira passagem do sinal (que é linguagem denotativa) para o símbolo ou signo (que é linguagem conotativa) encerraria o pecado original da comunicação entre os seres humanos? McLuhan, em seu Counterblast, ao falar na atual ascendência do espaço acústico, diz que, de novo, o nome se localiza onde a coisa a que se refere também está - ou seja, um retorno ao universo de puros sinais. O envolvimento, então, seria total, maciço, pois, sabe-se, é impossível a ambiguidade ao sinal: uma seta aponta irrecorrivelmente para determinado ponto, ela é a direção; o céu azul ou estrelado implica inapelavalmente na convenção do bom tempo, ele é o bom tempo.
Mas a hegemonia da sinalização acaba com coisas como a poesia, aquilo que, por exemplo, disse Heidegger ser a fundação do ser pela palavra, ou disse Mallarmé ser feita com palavras, e não com ideias. Em suma: o jogo com as palavras desapareceria, por falta de campo, de território conotativo.
A palavra é o uso do artifício - quanto maios a sua história, maior a sua carga referencial, as camadas de significados possíveis de ampliar a ambiguidade: eu não sou o que não sou. O som precede o alfabeto ou qualquer outro sistema, gráfico ou pictográfico, de sistematização de notações. Quando o homem descobriu o artifício da escrita como meio de comunicação, não só o desenvolvimento das capacidades para metáfora ou metonímia já ficava prescrito, como também a presença física da palavra já abria as portas ao mundo da fantasia. O resto era acionar, para o jogo, o brinquedo mais requintado até hoje existente, o cérebro humano. Não só em favor do mundo especulativo das artes (a luta por novas conotações), como em prol do disparo da ciência, que cria uma espécie de super-sinal (ou sinal híbrido), isto é, símbolos cuja reiteração incessante de determinadas conotações passam a obter a simplicidade da seta; e aí chegam as grandes fórmulas. E, mesmo assim, note-se, a imprecisão semântica das palavras, acarretada pela utilização significante, isto é, no papel de signo, símbolo: um texto de lei que, ao contrário do poético, tem que ser o mais preciso possível em matéria de significado, comporta, amiúde, as mais variadas exegeses.
A aldeia global, o universo tribal, o espaço acústico de McLuhan envidam demonstrar o fim da égide do alfabeto, da palavra em si, do literário, embora, até por paradoxo ou contradição, hajam sido elementos com esses que permitiram a evolução científica e material que gerou a parafernália da comunicação de massas que azeita as ideias do próprio McLuhan. De qualquer modo, o som artificial impôs-se com tal ímpeto que o envolvimento tornou-se irresistível. A própria força física da imagem artificial (cinema, TV, publicidade, etc.) é tão intensa como sinal, ao contrário da palavra impressa, que o efeito simbólico de conotação não pode deixar de levar em conta a materialidade de onde emana, ao contrário da poesia, onde é possível construir um símile a partir de um outro, já convencional.
Talvez, então, a própria essência da linguagem entre em crise.

Correio da Manhã
14/01/1971

 
G. S. Fraser "The modern writer and his world" - Criterion Books
Jornal do Brasil 18/08/1957

Sophokles – “Women of trachis”
Jornal do Brasil 03/11/1957

Piet Mondrian
Jornal do Brasil 01/12/1957

The Letters Of James Joyce
Jornal do Brasil 12/01/1958

O poema em foco – V / Ezra Pound: Lamento do Guarda da Fronteira
Correio da Manhã 05/10/1958

Erza Pound, crítico
Correio da Manhã 11/04/1959

Uma nova estrutura
Correio da Manhã 31/10/1959

"Revista do Livro", nº 16, Ano IV, dezembro de 1959
Tribuna da Imprensa 13/02/1960

E. E. Cwnmings em Português
Tribuna da Imprensa 04/06/1960

O último livro de Cabral: “Quaderna”
Tribuna da Imprensa 06/08/1960

Cinema e Literatura
Correio da Manhã 07/10/1961

Um poeta esquecido
Correio da Manhã 24/03/1962

A Grande Tradição Metafísica
Correio da Manhã 05/05/1962

Reta, direto e concreto
Correio da Manhã 06/06/1962

A Questão Participante
Correio da Manhã 18/08/1962

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