Counterblast é mais um livro de Marshall McLuhan que emerge como reiteração de sua minifilosofia a respeito da aldeia global. Em poucos anos, ele se tornou uma das personalidades mais discutidas dos últimos tempos; e, é válido ressaltar, não só os prós, mas alguns contras podem ter o devido fundamento. Mas o cômputo geral de sua atuação traduz-se como altamente positivo, pois agitou o mofo, acionou ideias, melhor dizendo, foi um dos grandes sistematizadores daquelo que já vinha como consequência de coisas como Mallarmé, cibernética, James Joyce, automação, publicidade, poesia concreta, cinema, TV, teoria da estrutura, etc.
Ao contrário de outras duas obras, importantes e recentes, como The Medium in the Massage e War and Peace in the Global Village, o seu Counterblast não apresenta fotografias - funda-se basicamente nos recursos tipográficos, suporte para a “massagem” que executa nos meios tradicionais de acelerar a percepção. É a luta em prol do homem pós-literário, do garoto que se rebela, na sala ou no auditório, com o expressar acadêmico das aulas modelo conferência, quando, em casa, já aprendeu muito mais vendo televisão. Porém, frisando, não exponencialmente a TV, como mero conteúdo (ou falta de) de uma dada cultura, e, sim, a TV como forma de linguagem.
O título da obra é uma espécie de hommage e contra-ambientação do Blast, de 1911, do escritor Wyndham Lewis, que, para McLuhan, foi um revolução para as artes e a mentalidade do homem. Lewis enxergou a mudança de séculos de tradição por causa de mudanças rápidas na sociedade e do dinamismo da máquina. Agora, o canadense McLuhan, por analogia, envida retomar o mesmo sentido, proclamando uma nova situação revolucionária.
De uma certa maneira, Counterblast não deixa de corroborar novamente a concepção de Le Livre, de Mallormé. Um livro que açambarcasse a totalidade das constelações de movimentos que explica o significado universal. Uma espécie de procura do absoluto da hora, não aquele divinizado em essências imutáveis, mas em contingências inarredáveis. Daí, também, a coerência em apelas para os próprios recursos tipográficos a fim de denunciar uma literatura que se fundava, não no espaço acústico de nossa era, mas no logicismo do alfabeto.
Um dos trechos do livro é bem elucidativo no tocante ao que pensa McLuhan: Num mundo pré-literário, as palavras não são signos. E, continuando: “Elas evocam coisas diretamente naquilo que os psicólogos denominam espaço acústico. Pelo simples fato de ser nomeada, a coisa está simplesmente lá mesmo. O espaço acústico é um campo dinâmico ou harmônico. Existe enquanto persiste a música ou o som. E o ouvinte é um dos seus componentes, assim como na música. O espaço acústico é o espaço universal do homem primitivo. Até a sua experiência visual permanece bastante subordinada ao seu auditório e domínio mágico, onde não há nem centro, margem ou ponto de vista”.
McLuhan, com todos os exageros, é um dos que melhor capta o processo, aquilo que Whitehead chamou de permanência do infinitos nas coisas finitas.
Correio da Manhã
08/01/1971