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Palavras, palavras

"A poesia é a fundação do ser pela palavra", diz Heidegger. O poeta inaugura. Então, se inaugura, é dogmático em seu dizer. Já, por seu turno, o filósofo usa a palavra a fim de chegar a formulações do que se chama pensamento. Não pode ser dogmático porque pensamento é decorrência de linguagem: é dialético. Não fosse assim, tornar-se-ia, quando muito, um autor de máximas, provérbios os aforismos. Mas, mesmo assim, o índice significativo dessas modalidades de manitifestação de idéias traduz uma resultante dogmática do pensamento em ação. O mesmo Heidegger, quando, por exemplo, define a ciência como teoria do real, vai ao fundo das profundas em terreno etmológico ou morfológico, com vistas a justificar sua conclusão. Realiza, em suma, a história da palavra, pois, em caso contrário, essa inspiração súbita de definir seria puramente poética. Ele também, para tatear o que quer dizer pensar, vê-se obrigado a uma exploração histórica intensa. Mas como ninguém pode captar o infinito - riocorrente - que é não-histórico, a história do pensamento só pode ser a da palavra, ou seja, da linguagem.
Esse presente que nunca se pode capta, seja um átomo de segundo, porque o tempo é a constante modificação do futuro em passado, dá-nos de volta a idéia de processo - presente transcendental. Por isso Whitehead define processo como a presença permanente do infinito nas coisas finits. Lembrar o rio de Heráclito.
Então, é impossível ao dogma explicar o infinito, que é, em essência, dialético. Mas, no papel de dialética suprema, ele é não-informação, aqui e além galáxias. O homem, a fim de se curar dessa não-informação permanente, usa a vacina da não-informação dogmática: deus, o mito, a razão, o materialismo etc. Qualquer coisa serve para dizer que sabe que o fundo do rio é de tal ou tal forma.
Mas deus, o mito, a razão, o materialismo, a poesia ou toda arte são formas de conhecimento, são meios, não fins em si próprios. A inversão do processo gera apenas o casulo onde se instalam os limites da estabilidade vivencial. Mesmo porque, numa operação progressiva, o último estágio da sabedoria é a loucura. Através desta, o homem fica, de fato, em estado de graça para incorporar vivencialmente o absurdo e conhecer o absoluto, o seu absoluto. Não lhe será uma ficção convencional como a adoção daquelas formas de conhecimento, tomadas como vértice de onde emana o entendimento de todos os fenômenos.
Assim sendo, tal como o poeta, o louco inaugura. Só que o poeta, como diz Fernando Pessoa, é um "fingidor", atua sôbre a linguagem fingindo-se à margem do mundo que a gerou. Enfim, a insatisfação do criador em saber que tudo é relativo, mas que esse relativo, impalpável, dialético, é o absoluto. Ou seja, o jôgo supremo: palavras, palavras, palavras.

Correio da Manhã
06/09/1970

 
G. S. Fraser "The modern writer and his world" - Criterion Books
Jornal do Brasil 18/08/1957

Sophokles – “Women of trachis”
Jornal do Brasil 03/11/1957

Piet Mondrian
Jornal do Brasil 01/12/1957

The Letters Of James Joyce
Jornal do Brasil 12/01/1958

O poema em foco – V / Ezra Pound: Lamento do Guarda da Fronteira
Correio da Manhã 05/10/1958

Erza Pound, crítico
Correio da Manhã 11/04/1959

Uma nova estrutura
Correio da Manhã 31/10/1959

"Revista do Livro", nº 16, Ano IV, dezembro de 1959
Tribuna da Imprensa 13/02/1960

E. E. Cwnmings em Português
Tribuna da Imprensa 04/06/1960

O último livro de Cabral: “Quaderna”
Tribuna da Imprensa 06/08/1960

Cinema e Literatura
Correio da Manhã 07/10/1961

Um poeta esquecido
Correio da Manhã 24/03/1962

A Grande Tradição Metafísica
Correio da Manhã 05/05/1962

Reta, direto e concreto
Correio da Manhã 06/06/1962

A Questão Participante
Correio da Manhã 18/08/1962

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