Título: A juventude do Rei Henrique IV
Autor: Heinrich Mann
Editora: Ensaio, 528 págs. CR$ 3 mil
Idéia: Uma narrativa histórica em torno da primeira fase da vida do rei Henrique IV, com o propósito de realizar uma projeção humanística sobre os dias atuais.
A juventude do rei Henrique IV foi lançado por Heinrich Mann em 1938 e logo seguido por A maturidade do rei Henrique IV. São obras de teor histórico da fase final de um escritor no exílio, mas ainda traumatizado pelo nazismo. Como vem estampado nas palavras do crítico Georg Lukács transcrita na contracapa de e livro, é a concepção "a respeito de uma humanidade real e vitoriosa", são "o traço verdadeiramente grande da humanidade, e que o escritor não tem senão que os reproduzir de forma concentrada com o meio próprio da arte".
Estamos diante de uma edição muito caprichada, agora em língua portuguesa na tradução de Lya Luft, com uma diagramação bem concebida e realizada e orelha de J. Chasin, na qual, de certa maneira, e reapresenta a mesma perspectiva temática exposta pelo já citado Lukác. O romance e divide em nove partes, por sua vez subdivididas em capítulos geralmente curtos. Ao término de cada parte, há um texto em modelo de comentário, adendo ou conclusão, escrito em francês, e sempre denominado Moralité, com a respectiva tradução para o português no rodapé.
Heinrich é irmão de Thomas Mann, considerado este último um do maiores romancistas do século, através de obras como A montanha mágica, Doktor Faustus ou a série bíblica de José. Apesar disso, não ficou inteiramente ofuscado - mesmo porque, além de ter escrito vários livros no gênero, tornou-se conhecido por um público bem amplo pelo fato de haver criado o romance de sátira e decadência Professor Unrat, no qual e baseou o famoso filme de Joseph on Sternberg, O anjo azul, e de onde se projetou para a glória a figura mítica da atriz Marlene Dietrich.
O rei Henrique de Navarra já esteve presente em outros livros de ficção históricos, valendo lembrar especialmente, no gênero folhetim, aquela série de Alexandre Dumas em torno da luta religiosa na França: A rainha Margot, A dama de Monsoreau, Os quarenta e cinco. Neste livro de Heinrich Mann, o relato é, em si, despretensioso e escorreito - não estavam programados grandes efeitos para o verbo.
São 528 páginas que mantêm unidade de tom e de estilo e se encerram com o cantar do guerreiro e aquela Moralité que traz um resumo decisivo e decreta o término da juventude. A cena dramática dispensam grande arroubos; o que se entende por drástico ou enfático não passa por perto. E a leveza do texto se explica pelo trabalho minucioso com a frases - esse mesmo trabalho que gerou um ritmo monocórdio de narrativa. Enfim, entre as personagens, está outra figura histórica, Agrippa D’Aubigné, que foi companheiro do rei protagonista e um dos maiores poetas da Renascença.
Revista IstoÉ
22/09/1993