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Faulkner em novelas cinematográficas

Três novelas
Autor: William Faulkner

William Faulkner é um dos maiores escritores do século. Criou um método e um mundo de especificidade absoluta, onde se transita entre o realismo quase cinematográfico (muito forte em imagens e cortes) a aquele fluxo de consciência que tem como ponto de partida, pelo menos convencional, Les lauriers sont coupés, de Édouard Dujardin. O realismo possui a sua base imaginária, em inúmeras de suas obras, na cidade de Jefferson e, consequentemente no ciclo de Yoknapatawpha. E parte dessas mesmas obras apresenta estrutura análoga àquela do romance policial, como, por exemplo, Sanctuary (Santuário) ou lntruder in the Dust (traduzido na edição portuguesa e na versão cinematográfica aqui exibida por O Mundo não Perdoa).
Isso levou até o escritor francês André Malraux a detectar um nível de tragédia grega nesses textos parapoliciais. Porém um outro André (e grande escritor) – Gide - foi mais drástico: "Faulkner é o maior romancista americano". Resta lembrar ainda que ele ganhou o prêmio Nobel de Literatura em 1949 e também, em 1955, o Prêmio Pulitzer, por Uma Fábula (Afable) - um "fabuloso" romance "sem enredo" no qual, vale aduzir, surge de modo inovador a personagem metalinguística, "o agente de ligação".
Agora, três novelas: "Cavalos Malhados" ("Spotted Horses"), "O Velho" ("Oid Man") e "O Urso" ("The Bear"), extraídas de três livros, The Hamlet (O Lugarejo), The Wild Palms (As Palmeiras Selvagens) e Go down, Moses (do espiritual negro, de certa forma intraduzível, clamando Moisés para descer à Terra). O trio compõe, sem dúvida (e firmada numa tradução eficaz), uma das melhores fachadas do universo falkneriano. Excluímos aqui, propositadamente a letra "u" da expressão a fim de lembrar outro lance do autor: nascido e falecido no Mississipi (New Albany, 25.9.1897; Oxford, 6.7.1962), seu sobrenome não possuía esse "u", acrescentado posteriormente por ele mesmo em seu primeiro livro, de poemas, que, talvez sintomaticamente, se denominava O Fauna de Mármore (The Marble Faun), de 1924. E, também na estréia sintomática, vale ressaltar que seu primeiro poema, publicado em 6 de agosto de 1919, possuía título idêntico ao daquele famoso de Mallarmé: "L'apres-midi d'un faune" ("A Tarde de um Fauno"). Não seria, então, o "u" do fauno uma inserção, não só intencional, porém significativamente simbólica? Ou simbolicamente significativa?
A primeira novela dessa edição, "Cavalos Malhados", proporciona bastante daquela visualidade de Faulkner, não apenas poética, simbólica, mas em ritmo cinematográfico. A descrição das personagens não surge linear, nem sempre minuciosa, mas pela justaposição de detalhes sobreposta a uma qualificação bem abstraia que pode emergir noutra passagem. Mas, como dizia o escritor francês Yaléry Larbaud, "as personagens de William Faulkner têm uma qualidade e uma veracidade humanas que nos tocam mais profundamente que o exotismo de sua ambiência".
Alguns exemplos daquele ritmo ou imagens de "Cavalos Malhados":

O ar prateado parecia estar preenchido por sons lúgubres e inexplicáveis – gritos, agudos e distantes, novamente um breve trovão de cascos em uma ponte de madeira; e mais uma vez gritos agudos e distantes, intensos e claros como sinos, um vez que até mesmo as palavras eram indistinguíveis: Upa!... Contenham-no!

Ou ainda:

Para os que estavam lá embaixo. que Brunhilde, que raridade, que virgem do Reno de papel-machê, uma Helena restituída ao desvairado e pretensioso Argos, esperando por ninguém!

E quando essa novela termina é de maneira abrupta, mas significante, sem arremate clássico, sem chave de ouro. "O Velho" e o Mississipi. Existe o antigo debate em torno do mútuo desmembramento dessa novela e "Palmeiras Selvagens". Como é sabido, o autor, originariamente, montou um volume com as duas, em capítulos alternados, criando-se por força um paralelismo, apesar da aparente, heterogeneidade dos temas. Malcolm Cowley, um dos grandes experts faulknerianos, vê nessa alternância "uma espécie de contraponto, um efeito de contrastes" entre a história de "Palmeiras Selvagens", na qual um homem tudo sacrifica pelo amor e pela liberdade e perde a ambos, e a de "O Velho", em que o forçado a tudo sacrifica a fim de escapar das duas mesmas coisas.
Dele discorda Maurice Coindreau, assinalando que as duas histórias se esclarecem e que, cada uma delas ficaria insondável. Conclui dizendo que se o escritor, por vezes, é hermético, "as suas complexidades, sejam de fundo, sejam de forma, nunca são gratuitas". De qualquer modo, distorcido ou não devido ao relato isolado, a odisséia dentro de "O Velho" representa um dos momentos mais altos daquilo que se entende por narrativa em prosa. As frases longas a fluir, a interseção dos parênteses, os diálogos bem sacados, as descrições - enfim, saudável parafernália técnica. E observa Robert Penn Warren que ele, de um lado, é um escritor perfeitamente direto e realista e, de outro, é um simbolista.
"O Urso" traduz um dos instantes mais telúricos de Faulkner, em analogia com Moby Dick de Melville. Mitologia/ ecologia:

Assomava e ascendia em seus sonhos mesmos antes de ele ter visto as árvores invioladas na qual deixara sua impressão tortuosa: peludo, imenso, olhos avermelhados, não era malévolo, apenas grande... grande demais mesmopara a região que era o seu espaço restrito. (...) Aquela natureza condenada, cujos bordos estavam sendo constante e mesquinhamente consumidos pelos homens com seus arados e machados, que a temiam porque ela era parte da floresta.

Três tomadas, três enfoques genéricos - cavalo, rio, urso: no meio e de dentro, o homem, suas contradições e perplexidades na visão e invenção de um escritor sem concessões

O Globo
27/02/1994

 
G. S. Fraser "The modern writer and his world" - Criterion Books
Jornal do Brasil 18/08/1957

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Jornal do Brasil 03/11/1957

Piet Mondrian
Jornal do Brasil 01/12/1957

The Letters Of James Joyce
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