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Blake, do tigre ao cordeiro

William Blake – Poesia e Prosa Selecionadas
Edição Bilíngüe.
Tradução e prefácio: Paulo Vizioli


A primeira coisa que se pode dizer, quando emerge o nome ou a lembrança de William Blake, é que se trata de um dos poetas mais originais da língua inglesa. Para G. S. Fraser, foi o único poeta inglês que inventou sua própria mitologia.
Idéia-Imagem-Música - "The Tyger" - O tigre: deslumbrante energia do verbo- um dos poemas mais espetaculares da língua. "Tyger! Tyger! Tyger! Buming bright / ln the forests of the night, / What immortal hand or eye / Could frame thy fearful symmetry?". Esta a primeira quadra, da qual já havia uma tradução de Augusto de Campos: "tigre! tigre! tigre!, brasa / que à fuma notuma abrasa, / que olho ou não armaria / tua feroz symmetrya?". E, então, Paulo Vizioli: "Tigre, tigre, flamante fulgor / Nas florestas de denso negror, / Que olho imortal, que não poderia / Te moldar a feroz simetria?".
No poema-fera, o tigre substituía o cordeiro como símbolo de Cristo. Da inocência à experiência.
O Blake protéico, contraditório, contendo multidões, tal como um dos futuros e grandes sucessores de uma de suas águas: Walt Whitman. Revolucionário (apoiou a Independência dos Estados Unidos e a Revolução Francesa) e cristão herético; um galope pelo esoterismo, com o olhar girando em tomo de figuras como Paracelsus e, especialmente, Swedenborg. O verso conciso e o verso longo, o dizer simples e o falar esparramado.
"To see a World in a grain of sand / And a Heaven in a wild flower, / Hold lnfinity in the palm of your hand / And Eternity in an hour"- mais um dos indiscutíveis touchstones (pedras de toque) na literatura inglesa ("ver um mundo num grão de areia / e um céu numa flor selvagem / ter o infinito na palma da tua mão / e a eternidade em uma hora"). É a abertura dos "Augúrios da Inocência", poema que Paulo Vizioli não traduziu por inteiro porque, como explica em nota no final do volume, "a qualidade dos dísticos e o seu conteúdo não variam muito".
Em sua introdução para a obra de John Donne e William Blake, Robert Silliman Hillyer assevera que a trajetória deste último foi excepcionalmente coerente, seja como homem, artista ou poeta. Ainda de acordo com Hillyer, ele, no tocante à política, era apenas nominalmente um revolucionário. A verdadeira revolução deveria ter sua fonte na libertação de cada indivíduo no sentido da liberdade espiritual - "essencial" seria, modernamente, o adjetivo mais adequado, como faz Herbert Read, em "Anarchy and Order", a fim de diferenciar essa liberdade (freedom) daquela outra (liberty) vinculada meramente ao direito de ir e vir. (Nosso idioma não possuía flexibilidade para nomeação das duas liberdades.)
O pequeno poema do girassol, para o qual Paulo Vizioli chama a atenção particularmente, ou o "Abstrato Humano" consistem em duas outras demonstrações do impulso da originalidade. ''The Gods of the earth and sea / Sought thro' Nature to find this tree, / But their search was all in vain: / There grows one in the Human Brain." ("Os Deuses que governam terra e mar / Tentaram aquela árvore encontrar. / Mas foi vã sua busca pelos anos... / Uma cresce nos cérebros humanos", na tradução de Vizioli.)
"The Little Vagabond" ("O Pequeno Vagabundo") é outra marca registrada de Blake, com relação ao universo infantil. Estranhamos tão-somente o tradutor não conservar os &s do original; afinal, outra característica do autor. Isso também acontece, por exemplo, em "I Saw a Chapel all of Gold" ("Vi uma Capela toda de Ouro") - todos omitidos; mas a tradução está boa, precisa: "E lá vomita o seu veneno / Por sobre o vinho e o Pão divinos". Enfim, na passagem do "Casamento do Céu e do Inferno", outro touchstone de William Blake: "Nuvens famintas sobre o abismo pendem".
Os "Provérbios do Inferno" trazem mais munição para a heresia: "As prisões se constroem com as pedras da Lei; os Bordéis, com os tijolos da Religião". O carimbo definitivo de William Blake.
O prefácio desse livro explica de maneira clara e despretensiosa vida, obra e tendências do poeta. No final, estão as notas em série com o propósito de esclarecer nomes e situações do texto. Vale observar que Blake além de escritor, foi artista. Sua obra visual é também altamente expressiva, insólita. No século XX, ressurgiu e influenciou diversos poetas.
Um lançamento, em suma, que consegue proporcionar panorama essencial da obra de um autor até hoje polêmico; seja no que se refere à concepção estética em si, seja naquilo que diz respeito à conseqüência e/ou inconseqüência de uma perspectiva do ser humano. "Ouvi a voz do bardo!"

O Globo
14/03/1993

 
G. S. Fraser "The modern writer and his world" - Criterion Books
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Piet Mondrian
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The Letters Of James Joyce
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