Os ecos da morte de Herbert Read não chegaram logo ao Brasil - parece que somos uma província cultural. E, no entanto, era um dos maiores ensaísta literários e de filosofia política, um dos grandes teóricos de arte desse século. Além disso, em plano menor, poeta e autor de um livro de ficção. Nasceu em 1893, perto de Kirbymoorside, em Yorkshire. Serviu como oficial de infantaria na Primeira Guerra Mundial, na França e na Bélgica. Foi professor em várias universidades e conservador de museus.
"O propósito da arte não é o de externar sentimentos ou excitá-los e, sim, o de dar-lhes forma, encontrar o seu correlato objetivo" (Icon and Idea).
A etapa futura do artista não é doméstica, nem sequer monumental, mas, sim, ambiental, o artista do futuro não será pintor, escultor ou arquiteto, isoladamente, será um novo modelador de formas plásticas, que é pintor, escultor e arquiteto ao mesmo tempo, não uma mistura adulterada de todas, essas faculdades. mas um novo tipo de talento a resumir e superar a todas.
(Icon and Idea).
E, em seu English Prose Style, tentando distinguir, dentro do possível, a prosa, da poesia, e estabelecendo, como unidade da primeira, a frase, e, da segunda, a palavra, procurou entender a prosa como um fluxo de construção e, a poesia, como de criação. Eis aí alguns hits do pensamento de Read.
São inúmeros os livros deixados por ele, a evidenciar também os vários ângulos de seu interesse estético e político:
The True Voice of Feeling, The Grass Roots of Art, The Meaning of Art, The Philosophy of Modem Art, Form in Modem Poetry, A Coat of Many Colouri, Education Through Art, Icon and Idea; Art and Industry, The English Prose Style, Arnarchy and Order, Education for Peace Phases of English Poetry, Annals of Innocence and Experience, Art and Society, The Politics of the Unpolitical, Histoire de la peinture moderne, além da apresentação para Paul Klee que escreveu num dos seus cadernos de arte de Faber and Faber, Herbert Read tentou também uma espécie de romance poético, The Gree Child, o qual consideramos uma tentativa fracassada. Seus poemas, todavia, já ganham maior nível de interesse, embora jamais o tenham guindado ao primeiro plano de grande poesia língua inglesa desse século.
Mas, em seus ensaios pululam os punti luminosi. É só ler as suas teorias ou explicações sobre a natureza da arte, entre as quais, em nível até didático, destaca-se o livro Meaning of Art, em que, no mesmo terreno, paira talvez o seu maior livro, Icon and ldea. O longo ensaio sobre "O Surrealismo e o Princípio Romântico", pertencente ao volume The Philosophy of Modem Art, constitui um dos exames mais lúcidos e instigantes dentro do tema. De modo idêntico, ainda no livro mencionado, pontifica a abordamento da obra do construtivista russo, Naun Gabo. The English Prose Style, entremeado de exhibits de inúmeros autores, é excelente apanhado panorâmico da prosa em língua inglesa da mesma forma que em outros livros e ensaios seus sobre autores como Pound, Eliot, Shelley Wordsworth e Coleridge são do maior interesse. Em paralelo, Anarchy and Order, como em poucas ocasiões, aborda com lucidez a atitude ética do anarquismo. E, não esquecer que Read também escrevia sobre cinema, especialmente em Cinema Quarterly.
Correio da Manhã
30/06/1968