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Aristocracia do tédio

Livro do Desassossego – volume I
autor: Fernando Pessoa.
ideia: Coletânea de textos completos ou fragmentários do grande poeta, na qual ele aborda questões autobiográficas, estéticas e filosóficas.



Livro do Desassossego evidencia que Fernando Pessoa continua sendo um autor de elevado interesse. Se ainda não está esgotado, basta que se prossiga abrindo o baú que, Segundo consta, guarda ou guardava 27.543 papéis seus. Diante desse primeiro volume do Livro do Desassossego (o Segundo será editado em maio), pode-se fazer duas subdivisões. Mediante a primeira, temos textos completos, inacabados ou meros fragmentos. Pela segunda, podemos classificar esses textos como poemas em prosa, máximas, divagações estéticas, confessionais, filosóficas (leitor de Nietzche) e políticas – essas últimas de um radicalismo aristocrático ou mesmo, do que se entende como relacionarismo, capaz de fazer corar o finado Oliveira Salazar. Basta ler a breve apologia do tirano. Ao mesmo tempo, destila uma fortíssima misoginia. Mulheres e operários, uni-vos!
Impessoalidade do ser (deus?), não-vida, niilismo, torre de marfim, pessimismo, esteticismo, amoralismo. E sobrepaira o saudável paganismo. Cintilante caleidoscópio de frases e imagens perfazendo uma detestável receita para os escritores "engajados". Lendo-se esse Pessoa, é valido também invocar uma mescla de Omar Khayyam (via Fitzgerald), Rilke, Lautréamont, Oscar Wilde, Heine, Nietzche e evidentemente, last but not least, Shakespeare. Tudo tem possível confluência num texto bem específico, como o do criador dos heterônimos, no qual o jogo com os pronomes oferece larga ascendência dentro do eixo semântico, o trazer a permuta de palavras de significados contrários ou antônimos.
"Na Floresta do Alheamento", por exemplo, é uma pequena obra-prima no gênero. Merece também destaque a "Estética do Desalento", desenvolvendo a filosofia do não-se e a aristocracia do tédio. O autor sabe como não apresentar como gastas as palavras abstratas e, em paralelo, usar imagens ou nomeações concretas a fim de gerar idéias abstratas - isso, naquela fabulosa tradição, que pode vir de um John Donne e, no século XX, desembocar num Lorca ou num João Cabral de Melo Neto. Exemplos de pedras de toque (touchstones) nesse sentido: "Na alcova mórbida e morna a antemanhã de lá fora é apenas um hálito de penumbra", "castidade geométrica"; "Fui o pajem de alamedas insuficientes às horas aves do meu sossego azul"; "Surge dos lados do oriente a luz loura do luar de ouro. O rastro que faz no rio largo abre serpentes no mar"; e forja o verbo "cadavernar"; "jazo a minha vida, consciente espectro de um paraíso em que nunca estive, cadavernado das minhas esperanças por haver". Valem, entre outras coisas, a definição de paganismo (p. 287) ou que diz sobre o escrever e o método (pp. 302-303). Esse livro pode não representar o máximo de Fernando Pessoa, mas, como ele mesmo dizia, "tudo vale a pena se a alma não é pequena!"

Revista IstoÉ
13/04/1994

 
G. S. Fraser "The modern writer and his world" - Criterion Books
Jornal do Brasil 18/08/1957

Sophokles – “Women of trachis”
Jornal do Brasil 03/11/1957

Piet Mondrian
Jornal do Brasil 01/12/1957

The Letters Of James Joyce
Jornal do Brasil 12/01/1958

O poema em foco – V / Ezra Pound: Lamento do Guarda da Fronteira
Correio da Manhã 05/10/1958

Erza Pound, crítico
Correio da Manhã 11/04/1959

Uma nova estrutura
Correio da Manhã 31/10/1959

"Revista do Livro", nº 16, Ano IV, dezembro de 1959
Tribuna da Imprensa 13/02/1960

E. E. Cwnmings em Português
Tribuna da Imprensa 04/06/1960

O último livro de Cabral: “Quaderna”
Tribuna da Imprensa 06/08/1960

Cinema e Literatura
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Um poeta esquecido
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Correio da Manhã 05/05/1962

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A Questão Participante
Correio da Manhã 18/08/1962

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