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Uma admirável prosa abstrata

título: Contos, fábulas e aforismos
autor: Franz Kafka
assunto: Seleção de obras curtas de um dos maiores escritores do século, contendo suas dúvidas, parábolas, pensamentos e alegorias


Com este livro a conter uma coletânea de peças curtas - ou mesmo sob o formato de pílulas, como os aforismos - temos, aqui no Brasil, mais um lançamento do escritor tcheco Franz Kafka (1883-1924), na tradução de Ênio Silveira. É um volume pequeno, para breve leitura e longa meditação. E Kafka dispensa maiores comentários no sentido genérico, pelo impacto que causou depois de morto. Hoje em dia, quando se pronuncia o adjetivo kafkiano, logo se pensa em coisas como as filas nas agências bancárias ou na proibição do jogo no País (que "exporta moral" para o resto do mundo!). A idéia do absurdo infiltrou-se no existencialismo e enriqueceu os vetores da metafísica. Muitos romancistas ficaram influenciados pelo que conseguiram depreender de sua obra. Mas, quando estava escrevendo, ele não pretendia a etiqueta de "literato" ou "fazer literatura", como outros mortais com quem ficou depositado no mesmo panteão. Quando está trabalhando na área daquilo que se entende como "prosa", o texto em si não oferece o menor interesse – ao contrário do que refletem aqueles de um James Joyce, de um Guimarães Rosa. Nada de poética.
Mas Kafka, autor de A metamorfose e O processo, também não se situa simplesmente do lado oposto - o da "prosa pura" ou transparência semântica de um Alexandre Dumas ou da maioria dos romances policiais, quando o leitor é puramente guiado pelas peripécias do relato. Por exemplo, nesses seus contos e fábulas, com a escrita simples, direta, sem pompas vocabulares, apesar de imagens ou situações de caráter insólito ou surrealista, desprovidos de acrobacias sintáticas ou complexidades de pontuação, pode-se verificar que o texto é um pretexto. Uma seta? Aponta para o quê? Para idéias; mesmo que estas apontem para o Nada.
Uma demonstração disso tudo é que, já nem se falando em classicismo, não figura na oscilação entre os dois opostos: romantismo e naturalismo. Então, seria uma espécie de prosa abstrata, assim como a pintura abstrata de formas geométricas ou familiares é uma pintura de idéias. Segundo Erich Heller, ao estabelecer a lei moral de um mundo ilimitadamente falso, Kafka procede através das "medidas matemáticas mais precisas". Preocupações de um homem de família (Odradek) é uma amostra - talvez o ser insignificante que nem é, mas sobrevive. Chacais e árabes perfaz uma alegoria aparentemente gratuita e com as imagens absurdas, tal qual "há sempre um inferno cuja boca se abre em seus sovacos" ou "avançou até mim, trazendo suspensa num dos seus caninos uma tesourinha bastante enferrujada". Afinal, onde? Entre ficção (o arbitrário) e realidade (o acaso). Reza o aforismo 33: "Antigamente, não podia entender por que minhas perguntas ficavam sem resposta; hoje, não posso entender como é que pensei ter a capacidade de perguntar. Na verdade, eu realmente não pensava: eu apenas perguntava." Está aí, Kafka.

Revista IstoÉ
14/07/1993

 
G. S. Fraser "The modern writer and his world" - Criterion Books
Jornal do Brasil 18/08/1957

Sophokles – “Women of trachis”
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Piet Mondrian
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The Letters Of James Joyce
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O poema em foco – V / Ezra Pound: Lamento do Guarda da Fronteira
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Erza Pound, crítico
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"Revista do Livro", nº 16, Ano IV, dezembro de 1959
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E. E. Cwnmings em Português
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Correio da Manhã 18/08/1962

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