Na Dinamarca, a tradição consiste em romper com a tradição: por que não no Brasil?
Bernard Pottier, Albert Audubert e Cidmar Teodoro Pais
Estrutura Linguísticas do Português
Difusão Européia do Livro
158 páginas
Um trabalho praticamente pioneiro quanto ao tema (o português falado no Brasil), é o primeiro registro a ser feito com relação às Estruturas Linguísticas do Português, de autoria de Bernard Pottier, Albert Audubert e Cidmar Teodoro Pais - uma edição da Difusão Européia do Livro, com capa de Marianne Peretti e a instigante citação de L. Hjelmslev, na contracapa: "Na Dinamarca, a tradição consiste em romper com a tradição" (arrematam os autores: "Por que não no Brasil?").
Bernard Pottier, professor da Universidade da Sorbonne, constitui um especialista na matéria, de renome internacional; e há muito que se vem interessando pelos estudos do Português. Os outros dois autores - Albert Audubert e Cidmar Teodoro Pais - são professores da Universidade de São Paulo.
O dissecação de nossa língua, aqui, já começa por uma opção dinâmica, ou seja, a língua que se usa, que se fala, aquela do cotidiano, moeda corrente, e não os lusitanismos, os troféus verbais de museu. E, dentro disso, os autores dividem o seu trabalho em quatro capítulos: 1 - os meios de expressão; 2 - a sintaxa do enunciado; 3 - as classes semânticas; 4 - os mecanismos da comunicação. O signo linguístico é captado, desde o morfema (que é o signo mínimo), até o parágrafo (que é uma sequência de enunciados complexos). Um livro até certo ponto simples, acessível aos iniciantes no assunto, onde tudo fica fácil e claro, em matéria de entendimento, a partir do momento em que o leitor se familiarize com a técnica, ganhe intimidade com as nomenclaturas e terminologias.
Os estudos linguísticos intensificaram-se imemamente no século atual – talvez seja até uma decorrência da aceleração do desenvolvimento científico, a forjar, consequentemente, meios de comunicação de grande poderio. Dai, é possível, a consciência da linguagem, estado de espírito que, até então, era quase um privilégio exclusivo de artistas ou filósofos. De De Saussure a um Jakobson, deste a um Chomsky, o aprofundamento e a especialização foram aumentando gradualmente, as descobertas foram-se empilhando. A estética, por exemplo, passou a ser uma ciência diferente. No terreno verbal, o estudo da literatura ganhou motivações bastante diversas do mero exame biográfico e conteudístico, seguido da análise estilística dos autores. Da mesma forma, os fenômenos idiomáticos principiam a passar, frutiferamente, pelas lâminas dos biologistas. Para o nosso caso, Estruturas Linguísticas do Português representa uma abertura e um desafio a outros trabalhos.
Correio da Manhã
26/11/1972