Edgar Wallace
O Abade Negro
Tradução de Octavio Mendes Cajado
Editora Cultrix
A Editora Cultrix acaba de lançar mais um volume da série de romances de Edgar Wallace que vem reapresentando. Agora foi a vez de O Abade Negro (The Black Abbott), livro que, antigamente, na década de 1930, era um dos primeiros da série Coleção Amarela.
Edgar Wallace, nascido em 1875, e morto em 1932, é um dos mais prolíficos produtores de romances de mistério, desenrolados em cenários e ambiemes os mais heterogêneos. Isto porque, antes ou em paralelo à sua principal função de escritor, exerceu atividades tão díspares ou diversas, como as de leiteiro, jornaleiro, enfermeiro, tipógrafo, repórter, editor, turfista, correspondente de guerra, teatrólogo e, até, diretor de cinema. E o mesmo cinema, até hoje, não se farta de se socorrer de seus enredos imaginosos.
Antes de se consagrar no gênero policial, escreveu alguns livros a respeito da vida dos ingleses na África Colonial. Aliás, também, não deve ser ele considerado um romancista policial de acordo com as linhas habituais e tradicionais: um crime ou série de crimes, propiciando uma geometria de situações e uma convergência crescente de deduções, em favor de um desfecho, cuja lógica está oculta. Ao contrário de Conan Doyle, Ellery Queen, S. S. Van Dine, Agatha Christie e tantos outros clássicos na especialidade, gosca de cultivar o lado novelesco - os seus livros oferecem muitas situações de folhetim, com castelos misteriosos, passagens secretas, tesouros escondidos, viagens mirabolantes. Há em muitos deles, da vertente mais folhetinesca, uma desconcentração do crime em si, em favor da intriga ou da aventura. Mas não há dúvida que, na linha mais tipicamente policial, realizou-se com obras a traduzir o ponto alto no gênero, como
O Círculo Vermelho ou
O Enigma da Chave de Prata.
O Abade Negro, tal como
O Arqueiro Verde, também relançado pela Cultrix, faz parte daquela vertente mais novelesca. Há evidentemente o mistério, chega a ocorrer um crime, já na segunda parte da história, porém a trama central, mais longamente desenvolvida, seria aquela típica da novela em fascículos, que prendeu a atenção de várias gerações, antes do rádio e TV. Há um fantasma, a abadia de um castelo, cheia de alçapões e portas misteriosas, uma intriga amorosa (com o natural
happy-ending) e lingotes de ouro, atraindo a não menos natural cobiça da maioria dos personagens. O leitor experimentado, no entanto, com facilidade, saberá logo identificar quem é o ente misterioso, responsável por alguns fatos inexplicáveis.
Correio da Manhã
01/10/1972