ESTE poema, além de outro, The Alchemist, parecem indicar que, durante certa época, Ezra Pound deve ter-se interessado pelo mundo da alquimia ou outras vertentes exotéricas. Aqui, num jogo muito fluente de enjambements, o poema dá uma idéia de transmutaçao dos espíritos na fusão da calma. É a máscara de Paracelsus.
Theophrast Bombast V o n Hohenheim Paracelsus é considerado um dos maiores alquimistas de todos os tempos. Nasceu em Einsielden, Suíça, em 1493 e, Segundo consta, teria estudado Medicina em Ferrara. Desde cedo, iniciou sua polêmica com os medicos e seus métodos. No meio disto, viajava muito, fazia conferências e o seu radicalismo e não-conformismo chocavam e eram alvos de críticas violentas. Considerado grande mágico e parece que, em certo período, trabalhou em alquimia com o Abade João de Tritheim. Passou a empregar o imã e tranformou-se num precursos de Mesmer e do magnetismo. Atacou Lutero com todas as suas forças, em nome da fé. Renovou a Medicina, através de exaltar a necessidade de compreender a natureza. Da mesma forma, promoveu o estudo dos remédios, a observação clínica, a patologia geral - esta última, contida em seu Paraminum. A sua teorização é também considerada precursora da homeopatia, mais tarde, impulsionada por Hahnemann. Paracelsus morreu em 1541.
Por outro lado, há uma razão para a hommage poundiana. As pesquisas de linguagem, com a criação de novos fonemas, que Paracelsus julgava necessário para desenvolver sua técnica de conhecimento. Sonoridades insólitas. Como diz Albert-Marie Schmidt, ele, "como a maioria dos seus contemporâneos, presume que a fonética é, já por si, expressiva. As palavras bizarras que criou, às vezes rebarbativas ou cacofônicas, são, segundo ele, transposição impecável ou a transcrição Sonora de -determinados objetos mal nomeados". Mais adiante: "Não dava importância ao rigor latino, enfrentava as normas sadias da retórica, distorcia o sentido comum os poucos termos correntes que lhe encantavam, introduzia em suas frases caóticas vocábulos monstruosos, de interpretação quase impossível." Pois, às vezes, a realidade concreta pede nova linguagem.
E o que é que faz o poeta? Como Rimbaud: alquimia do verbo. E Pound também sabia.
Parecelsus In Excelsis
Não sendo mais humano porque iria
Fingir humanidade ou usar o frágil adorno?
Conheci homens e homens, mas nenhum
Crescer tão livre como essência, ou torna-se
Em elemento simples como eu.
A névoa abandona o espelho e vejo.
Mire! O mundo de formas devastou-se –
O tumulto ficou visível sob nossa paz
E, crescidos sem forma, erguemo-nos
Sobre fluidos intangíveis que foram homens.
Parecemos estátuas em volta de quem
Algum rio transbordante enlouqueceu.
Só em nós o elemento da calma.
Correio da Manhã
25/12/1972