Mário da Silva Brito
Poetas Paulistas da Semana de Arte Moderna
Livraria Martins Editora, 164 páginas
Numa edição da Martins, em convênio com O Conselho Estadual de Cultura, do Governo do Estado de São Paulo, aparece esta antologia, que, como o título mesmo indica, possui um objetivo específico. É por isso, inclusive, que, na apresentação, Mário da Silva Brito - organizador desse volume - explica a ausência de nomes importantes da Semana de Alte Moderna, como Manuel Bandeira, Ronald de Carvalho e Agenor Barbosa.
Na contracapa, um inédito de Tácito de Almeida, O Túnel; aliás um bom poema este do irmão de Guilherme de Almeida e que morreu prematuramente. Vasado em imagens instigantes: "trevas úmidas, para revelar fotografias de paisagens anteriores".
Fazem parte da antologia os seguintes poetas, por ordem de apresentação: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Guilherme de Almeida, Menotti Dei Picchia, Ribeiro Couto, Sérgio Milliet, Luís Aranha, Tácito de Almeida e Plinio Salgado. A maioria deles colaborou na revista Klaxon, e enfrentou a reação do escândalo da época.
Antes dos poemas escolhidos de cada um, Mário da Silva Brito realiza um intróito biobibliográfico. E apesar das limitações temáticas da antologia, ainda figuram algumas coisas boas da língua. De saída, a Ode ao Burguês de Mário de Andrade ("Eu insulto o burguês! o Burguês-níquel,/ o burguês-burguês!/ A digestão bem feita de São Paulo!"). E ainda de Mário, o longo, bonito e revoltado
A Meditação Sobre o Tietê.
De Oswald de Andrade, a figura mais importante de 1922, além dos poemas curtos e paisagísticos - tal como Noturno (Lá fora o luar continua/ E o trem divide o Brasil/ Como num meridiano") - o nunca esquecido fragmento (Canção e Calendário) do Cântico dos Cânticos para Flauta e Violão: "Sol de Montanha/ Sol esquivo de montanha/ Felicidade/ Teu nome é/ Maria Antonieta d'Alkmin".
Luis Aranha, cuja obra merece uma revisão urgente, está bem representado em especial pelo fragmento do longe poema Pitágoras. Quanto a Guilherme de Almeida, o seu Canto dos Brinquedos ainda permanece como uma das coisas mais instigantes no gênero.
Acompanha esta edição um material iconográfico do maior interesse.
ALIBI
Não estive presente
quando se perpetrou
o crime de viver: ,
quando os olhos despiram,
quando as mãos se tocaram,
quando a boca mentiu,
quando os corpos tremeram,
quando o sangue correu.
Não estive presente.
Estive fora, longe
do mundo, do meu mundo
pequeno e proibido
que embrulhei e amarrei
com cordéis apertados
de meridianos meus
e de meus paralelos.
Os versos que escrevi
provam que estive ausente.
Eu estou inocente.
(Guilherme de Almeida in Toda a Poesia)
O Globo
04/03/1973