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O reverso dos Estados Unidos

Antologia da Nova Poesia Norte-Americana
seleção, tradução e notas de Jorge Wanderley
Editora Civilização Brasileira, 289 pgs.


Com orelha de Enio Silveira, chega-nos essa "Antologia da nova poesia norte-americana", através da seleção, tradução e notas de Jorge Wanderley. São 42 poetas, a cobrir um período que vem desde aqueles que nasceram e morreram no século passado, como Walt Whitman e Emily Dickinson, até Patricia Hooper e Wan Lin-Lau, por enquanto menos conhecidos. Temos ainda referências bibliográficas e um breve intróito do autor destinado "Ao leitor". A edição é bilingue,
comme il faut - ou sempre desejável quando inexistem fatores proibitivas.
No mencionado intróito, Jorge Wanderley fala de "uma das forças do espírito antológico: a exclusão do rotineiro em favor da excelência". Explica ainda que, no caso da antologia ora publicada, "a escolha procurou neutralizar a presença do antologista pelo recurso à frequência dos poemas em antologias confiáveis de língua inglesa". E conclui dizendo que "há que recriar, e isto é o que há de mais verdadeiro na matéria".
Inúmeros tradutores e não tradutores já discorreram em torno do assunto. Para Walter Benjamin, por exemplo, tradução é forma, ao passo que Roman Jakobson discerne duas mensagens iguais em dois códigos diferentes. Por isso que o tradutor - especialmente o de poesia - cai forçosamente na "traição" (uma falsa traição porque ela é funcionalmente fiel). Mas deve haver senso, sensibilidade e conhecimento de causa para lidar com o texto alheio. A traição, normalmente, deve ater-se ao detalhe, a um pequeno elemento, pois, na hipótese contrária, sob o pretexto da recriação, pode o tradutor estar fazendo um poema no estribo do traduzido.
Cada poeta selecionado vem precedido de uma breve biografia comentada. E a antologia e o tradutor começam bem com o curto e magistral "Fog" ("Nevoeiro") de Carl Sandbur: "O nevoeiro chega/ em delicados pés de gato."
Walt Whitman é o mais velho dos vates constantes do livro, mas foi um autor importante pela liberdade que deu ao verso. Na verdade, mais importante do que grande, e Jorge Wanderley refere-se com propriedade ao "rio talvez excessivamente caudaloso". Whitman, aliás, é menos difícil de ser traduzido; não desfecha desafios de rima ou métrica, e seu vocabulário é acessível. Seu poema "Aranha/alma" tem interesse: "Que o fio da teia que lances a algo se entrelace". Já Emily Dickinson, a outra do século passado, reflete o anti-Whitman. Ela é concisa e precisa e, além disso, muito exige dos tradutores no tocante às transposições de idioma. O
mot juste representa condição essencial para verter suas peças, principalmente tomando-se em consideração que o inglês já é uma língua bem mais enxuta e condensada do que o português.
Pound e William Carlos Williams foram muito amigos. O primeiro dispensa maiores comentários, e a logopéia ("a dança do intelecto entre palavras" - Ezra Pound) de "Moeurs contemporaines" foi bem escolhida. No entanto, deveria ter sido apresentado pelo menos um dos "Cantos" (de preferência um daqueles a mesclar o "poético" com o "prosaico"), por ser uma das obras mais audazes e polêmicas deste século. Quanto a William Carlos Williams, tratase de um dos poetas contemporaneous mais originais, desde as imagens até o ritmo feito de pausas no branco do papel,
enjambements e tmeses. Sem falar nos títulos, e aí está o bem escalado "Quando a estrutura falha, a rima tenta vir em socorro".
Um dos melhores momentos do tradutor é quando reelabora, em nossa língua, o belo poema de Robert Frost, "Neither out far nor in deep" ("Nem distâncias, nem profundezas"). Vejamos o
touchstone em material de fanopéia da segunda quadra: "Como algo que se repete,/ a barca passa cansada./ O chão úmido reflete/ Uma gaivota parada." E a redondilha maior – o verso mais flexível em português.
Wallace Stevens, um dos maiores, está evidentemente presente. Temos o consagrado nas Alturas "Sunday morning" ("Manhã de domingo"). Versos brancos e as tomadas iniciais: "Complacências do peignoir e um café/ Tardio; laranjas, cadeira ao sol,/ Verde liberdade de periquitos/ Sobre estampados"). Mas preferimos "Le Monocle de mon oncle", também em decassílabos brancos. Poema do pensamento, afinidades com Eliot. No verso final, o tradutor trai e, no bom sentido, sem o "banho de ironia" (Drummond) de João Cabral, poetiza o poema: "Quão nítida é a sombra dos que caem".
A grande Marianne Moore também está presente com a sua teorização de "Poetry" - o ritmo de
enjambements análogo à espátula do artista plástico, saltos semânticos ou a enumeração caótica detectada pelo linguista Leo Spitzer. E. E. Cummings, fabuloso como inventor e mestre, só tem um poema, belíssimo e muito conhecido: "em algum lugar onde nunca estive". W.H. Auden, um dos grandes mestres do século ("and nature can only love herself' - do poema "Oxford", imortal pedra de toque), tem quatro poemas escolhidos. Bom o "Amor nada romântico" de J.V. Cunningham. Mas o poema de Alain Dugan é fraco. E Allen Ginsberg parece-nos um Walt Whitman piorado. Eis o florilégio.

O Globo
31/01/1993

 
G. S. Fraser "The modern writer and his world" - Criterion Books
Jornal do Brasil 18/08/1957

Sophokles – “Women of trachis”
Jornal do Brasil 03/11/1957

Piet Mondrian
Jornal do Brasil 01/12/1957

The Letters Of James Joyce
Jornal do Brasil 12/01/1958

O poema em foco – V / Ezra Pound: Lamento do Guarda da Fronteira
Correio da Manhã 05/10/1958

Erza Pound, crítico
Correio da Manhã 11/04/1959

Uma nova estrutura
Correio da Manhã 31/10/1959

"Revista do Livro", nº 16, Ano IV, dezembro de 1959
Tribuna da Imprensa 13/02/1960

E. E. Cwnmings em Português
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O último livro de Cabral: “Quaderna”
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