S. S. Van Dine
O Bispo Preto
Gráfica Editora Record
O romance policial voltou a ter grande público. Pelo menos, parece ser o que concluíram as editoras – principalmente a Nova Fronteira, a Record e a Cultrix - relançando os grandes autores, em especial Agatha Cristie, Edgar Wallace e S. S. Van Dine. Parece também que estamos voltando à época áurea das grandes coleções das décadas de 1930 e 1940, como a Coleção Negra, a Amarela e a Paratodos.
S. S. Van Dine é um dos maiores autores do gênero. O Bispo Preto, (The Bishop Murder Case), uma de suas obras máximas, foi, pela primeira vez, editado no Brasil em 1934, como número 32 da Coleção Amarela e apresentava uma capa admirável, a traduzir, na forma e no significado, o movimento em diagonal do bispo no tabuleiro de xadrez.
O principal personagem de Van Dine é sempre Philo Vance, detetive amador, homem extremamente refinado, de alto nível cultural. Num reflexo da influência de Conan Doyle - o inaugurador do próprio gênero em si - Vance traz sempre consigo um amigo, tal qual Watson, que é o próprio narrador em primeira pessoa. E o primeiro, naturalmente, a acompanhar as deduções e elocubrações do protagonista.
Tal como nos demais livros do autor, abaixo do título de cada capítulo, entre parênteses, vem sempre a notação de data e hora dos acontecimentos narrados. Isso descerra o seu metodismo, que procura fazer refletir na técnica do detetive. Os experts em psicologia do romance policial poderão acertar no criminoso que só é revelado (evidentemente) no desfecho. Isto porque as maquinações verbais do escritor têm lógica - e este é o desafio para o bom livro no gênero.
E vale anotar um mérito extra para os requintes de Van Dine. Philo Vance, enquanto tenta deslindar uma sequência de assassinatos frios e precisos, feitos de acordo com as quadrinhas infantis de Mama Goose, disserta a respeito das altas matemáticas, a teoria da relatividade ou dos quanta, a respeito das partidas de Capablanea, Lasker ou Rubinstein, literature alemã ou ópera: em certo momento, vai assistir a Louise, de Charpentier, com a famosa Geraldine Farrar, mas observa que prefere a performance de Mary Garden. Em suma, o sabor das notas ao pé de página.
O Bispo Preto é um dos maiores romances no gênero. Pouco envelheceu, principalmente para aqueles que gostam de apreciar as sutilezas de Van Dine.
O Globo
24/09/1972