Agatha Christie
Cartas da mesa
tradução de Milton Persson
Editora Nova Fronteira
Como romancista (autora de histórias policiais), talvez nenhuma mulher do mundo haja faturado tanto como Agatha Christie. São decênios e decênios de vendas incessantes nas livrarias, ou com as deduções sensacionais do belga baixinho, Hercule Poirot, ou nas andanças da solteirona, Miss Marple. Sem contar com os direitos autorais na area do cinema, televisão e teatro.
A Editora Nova Fronteira tom,ou a iniciativa de relançar Agatha Christie, em série. E aí está
Cartas na Mesa (Cards on the Table), entre outros, na tradução de Milton Persson. E mais uma façanha intelectual, sob os ares londrinos, do nosso Hercule Poitot.
Cartas na Mesa pode ser considerado uma boa obra dentro das centenas de livros de Agatha. E daqueles romances policiais com a arrumação dos personagens dentro do esquema crime I suspeitos I pistas. Desde o começo, sabemos quem e quantos são os suspeitos - e esta quantidade não se altera. Os depoimentos e palpites são registrados um a um. A ação é praticamente mínima; os diálogos imperam maciçamente. Quem gosta de se divertir com a literatura do gênero, mesmo que não se entusisme com as peripécias inquisidoras, jamais irá se decepcionar, porque Dona Agatha, aqui, não corre nenhum risco em matéria de bossas ou de inovações.
O lado mais interessante de
Cartas na Mesa é o de oferecer um deleite especial para os jogadores de bridge. O crime se verifica enquanto quatro pessoas jogam uma partida, e um dos parceiros é fatalmente o assassino. O livro reproduz as folhas de papel com as contagens das quatro partidas disputadas (a última inacabada por causa do momento da descoberta do crime). Lá estão; nas colunas Nós e Eles, as anotações de vazas, honras, multas, slams ou rubbers. E foi justamente através dessas marcações, que Monsieur Poirot estabeleceu as suas deduções definitivas a respeito da identidade do criminoso.
Ficou um desafio: quem sabe jogar bridge (basta ser amador, não precisa ser profissional) está na obrigação de advinhar o assassino, sue Agatha Crislie pos dentro da manga, com a mesma facilidade que Poirot o fêz.
O Globo
15/10/1972