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literatura

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Sob o domínio de Kafka

título: Amor e lixo
autor: Ivan Klíma
editora: Record, 236 págs.
ideia: Romance narrado na primeira pessoa e girando em torno das angústias e indagações de um intelectual que vive as perplexidades de seu tempo e aquelas do triângulo amoroso


Antes de se iniciar a leitura, vem, grifado, um aviso: "Nenhuma das personagens deste livro – incluindo o narrador - pode ser identificada
com qualquer pessoa viva." Poder-se-ia indagar a razão de tal alerta, pois, no correr de toda a história da literatura, inúmeros romances ou outras modalidades de obra de ficção foram escritos na primeira pessoa e a maioria deles não era também autobiográfica. Talvez Ivan Klíma, o autor, sentisse a necessidade de frisar o caráter puramente imaginário do livro. E, talvez, com razão. Estamos diante de um dos melhores romances das últimas décadas e ele vem fazer isso mesmo: reforçar a ascendência e transcendência do imaginário via verbo. A especulação mental concretizada no velho e simples instrumento – a escrita - sobe ao pódio e esnoba os aparatos tecnológicos de outras formas de criação mais recentes. Até há pouco, julgava-se que o cinema iria dispensar a existência do romance. Longo e breve engano. A arte do Klima: obra do filme para sala de espetáculos envelhece (ou reenvelhece), enquanto alguns franco-atiradores da mesma escrita dão o seu plá.
O mais importante que existe neste Amor e lixo, em termos estruturais, é que o autor conta uma história e, ao mesmo tempo, veladamente ou de modo aberto, sob o escudo do também tcheco Franz Kafka, teoriza sobre o seu ato de ficcionista. Fica claro que o entrecho, ao encadear cenas e situações "realistas", nada tem a ver, diretamente, com a vida do autor. Este, através da trama, engendra parâmetros e remete tudo à sensibilidade, ao traquejo, ao pensamento do leitor. E os mais audazes possivelmente irão discernir que por detrás das tintas do tom soturno e depressivo está a luta contra o vazio e o absurdo. A porfia do intelectual, que além de meditar - pior – tem de agir ao mesmo tempo. Para quê? Nem Klíma nem seu declarado alterego, Franz Kafka, pretendem possuir uma resposta no bolso do colete.
Neste livro, o tempo vai e vem, fora da lógica e sem anúncios de flashback - embora o tecido do texto seja sempre linear. O sentido positivo é que esse texto flui, mantém um ritmo envolvente e, nisso tudo, muito valeu a sua versão para a nossa língua. Há um contexto cultural, com transcrições de Aleksander Pushkín e Friedrich Jacques Prévert, invocações de Jorge Luis Borges ou George Gershwin, mas, acima de tudo, pairando, Kafka. São inúmeras as páginas em que a personagem principal fala no autor de O processo e O castelo. Somadas, poderiam projetar um grande ensaio. Mas elas são funcionais. Parece-nos inviável pinçar mensagens explícitas numa obra de criação. No entanto, vale transcrever o que está dito, aqui, numa das últimas páginas: "Os animais e os pagãos não têm gestos predeterminados, estão vivos, não são santos. A santidade não pertence à vida, foi inventada por variados inválidos que não eram capazes ou tinham medo de viver e, portanto, queriam torturar aqueles que sabiam viver."

Revista IstoÉ
28/07/1993

 
G. S. Fraser "The modern writer and his world" - Criterion Books
Jornal do Brasil 18/08/1957

Sophokles – “Women of trachis”
Jornal do Brasil 03/11/1957

Piet Mondrian
Jornal do Brasil 01/12/1957

The Letters Of James Joyce
Jornal do Brasil 12/01/1958

O poema em foco – V / Ezra Pound: Lamento do Guarda da Fronteira
Correio da Manhã 05/10/1958

Erza Pound, crítico
Correio da Manhã 11/04/1959

Uma nova estrutura
Correio da Manhã 31/10/1959

"Revista do Livro", nº 16, Ano IV, dezembro de 1959
Tribuna da Imprensa 13/02/1960

E. E. Cwnmings em Português
Tribuna da Imprensa 04/06/1960

O último livro de Cabral: “Quaderna”
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Cinema e Literatura
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Um poeta esquecido
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A Grande Tradição Metafísica
Correio da Manhã 05/05/1962

Reta, direto e concreto
Correio da Manhã 06/06/1962

A Questão Participante
Correio da Manhã 18/08/1962

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