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A velha voz medieval inglesa

A literatura inglesa medieval, introdução, seleção, tradução e notas de Paulo Vizioli, Editora nova Alexandrina, 224, pags.

Desliza pelo didático e termina pelas peripécias da tradução. Assim, uma geral do livro.
Contém uma introdução, 12 partes com apresentação bilingüe dos textos traduzidos (cada uma das quais, por seu turno, com sua respectiva introdução), 55 notas e, por fim, um apêndice sobre o inglês arcaico e o ingles médio. Tudo a cargo de Paulo Vizioli, tradutor experimentado e que elucida com clareza, em linguagem escorreita, a materia de que está tratando. Aqui, estamos livres dos sustos e perplexidades de uma terminologia modernosa, que, ao se insinuar como da "moda", apenas espanta e penaliza o leitor. "Som e fúria" etc e tal.
Para Michel Alexander, o verso inglês, em seus primórdios, "era altamente elaborado, formalmente eloqüente, dotado de uma sóbria intensidade; possuía qualidades épicas. Longe de ser rude ou bárbara, a sua técnica estava plenamente desenvolvida, e "Beowulf" quase pode ser chamado de barroco, no tocante ao estilo. A tendência aliterativa da poesia chegou à Inglaterra na crista do próprio Homero". E continuando: "Apesar dos mil anos que nos separam dos antigos poetas, apesar das mudanças que os fazem parecer tão remotos, vale o trabalho de tomarmos conhecimento com os seus versos arcaicos, porém duradouros. Lendo-os, nos nos elevamos até a fonte da língua inglesa, onde as palavras estão enraizadas em coisas e plenas de significado - porque mais plenamente significadas" ("The earliest english poems" - Penguin, 1966).
Paulo Vizioli explica, em sua introdução, que as primeiras manifestações da literatura inglesa medieval eram em latim, e então, posteriormente, veio o império carolíngeo, "que pode ser considerado o primeiro renascimento da história intelectual da Europa". Chegando à fase anglonormanda, diz que ela nos interessa por causa da influência que exerceu sobre as letras vernáculas em inglês médio. "O próprio verso inglês abandonou paulatinamente o velho esquema aliterativo e adotou a métrica e a rima". E arremata: "O pentâmetro jâmbico, de brilhante futuro, fez a sua aparição".
A série de partes com os textos bilingües começa com a tradução, do latim, do Venerável Beda, que, segundo Otto Maria Carpeaux, foi o primeiro scholar inglês. A seguir, "Beowulf", cujo enredo diz respeito às porfias do protagonista com o gigante Grendel, depois com a mãe deste e com o dragão. Paulo Vizioli informa que "continua sendo a maior epopéia dos tempos heróicos dos povos germânicos". E, com belos efeitos, finaliza o trecho que traduziu, fazendo a transposição, por analogia (através da permuta de consoantes), das assonâncias do original: "O fulgor refulgiu, a luz flamejou na caverna/ assim como acesa cintila na altura/ a cadeia do céu".
Mas "Beowulf" não foi exclusivamente o sentido épico. Numa passagem, com relação à tarefa poética, fala mais ou menos assim daquele "cuja mente era um empório de versos narrados/ cuja língua doou ouro à linguagem/ do repertório entesourado, forjou um novo canto/ feito na medida".
Alfredo, O Grande, rei de Wessex deu uma grande contribuição cultural, através de suas traduções de obras, para a educação dos súditos. De novo Otto Maria Carpeaux: "foi o primeiro gentleman-scholar". No livro de Vizioli, temos uma tradução de trecho da "Historia e Adversum Paganos". Quanto a Layamon, a sua obra é o poema "Brut", de nada menos do que 32 mil versos. Segundo o intróito que precede uma fração do poema ("A morte de Artur"), esse "romance de cavalaria" desperta o interesse pelo fato de documentar a evolução do inglês arcaico para o médio, bem como a forma de transição do esquema aliterativo para a rima. Em continuação, vem uma amostragem da poesia lírica em versos leves e breves.
Não se sabe ao certo quem escreveu as viagens de Sir John Mandeville, nem mesmo sua nacionalidade. Mas a sua prosa seria de grande qualidade e rica em idéias; uma destas, muito avançada: a terra era redonda. Outro anônimo foi o "Poeta da Pérola", cujos versos ficaram muito valorizados: "Donde o petângulo ardente/ Em sua cota e no escudo/ Como homem que nunca mente/ E vence os nobres em tudo".
Com relação ao famoso "The vision of Piers Plowman" – com autoria atribuída a William Langland, mas com outros preferindo a tese de diversos escritores - temos, por exemplo, uma seqüência da "Luxúria" (um prazer capital), com desfecho bem parecido àquele do velho trovador Peire Vidal, via máscara de Ezra Pound: "Quando velho então me vi, sem o vigor da potência/ Ainda restava-me rir dos relatos sobre o sexo./ Hoje, oh Deus, o teu perdão a nós devassos concede!"
Após a navegação por John Gower, na versão do "Confessio Amantis" em redondilha maior, é a vez de Chaucer, o primeiro e um dos principais faróis da poesia em língua inglesa (os outros - quem sabe? - além e também abaixo de Shakespeare: John Donne, Keats, Eliot, Pound...) Sua obra máxima, "The Canterbury tales" ("Os contos de Cantuária"), com seu virtuosismo rítmico e o dom do manejo do verso - um alentado texto e de alta densidade. Um dos melhores momentos do tradutor, a descrição do galo Chantecler: "A sua crista era o coral mais belo,/ Com ameias, qual muro de castelo;/ Brilhava o bico preto como breu;/ Pernas e pés tinham o azul do céu;/ Unhas, mais brancas do que o lírio em flor,/ Ecomo o ouro polido era sua cor."
Vêm as "baladas de fronteira" em diversidade métrica: "Lord Rándal", em hendecassílabos; "Sir Patrick Spens" e "The wife of Usher's Well", com as quadras variando, um a um, entre o decassílabo e o verso de seis sílabas. Enfim, o panorama de textos se encerra com Thomas Malory e sua grande obra em prosa, "Morte d'Arthur".
O livro de Paulo Vizioli tem traduções que poderiam ser criticadas por leitores diletantes ou profissionais. Mas isso exige mais estudo e tempo. Em primeira instância, está a evidência de sua contribuição cultural.

O Globo
17/01/1993

 
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