Na TV, a emoção é gerada pelo espetáculo ou pelo jogo de tensões a ela condicionados. Basta lembrar a abertura dos jogos olímpicos ou os mais recentes jogos pan-americanos, com as disputas de vôlei, basquete, atletismo ou natação transmitidas ao vivo. Pode, ao mesmo tempo, haver a emoção em torno de várias outras coisas, como grandes reportagens, manifestações políticas, filmes de ficção, novelas, programas de auditório etc.
Quando se liga o aparelho, estamos diante do espetáculo íntimo do audiovisual, da montagem dialética entre documentário e ficção. Entra uma novela-sai-entra um jorna'! com notícias-sai-entra uma fita dublada-sai-entra uma retrospectiva de esporte-sai-entra mais uma novela-sai-entra um programa de entrevistas. No meio de tudo, o tique-taque publicitário, fator muitas vezes de perplexidade ou perturbação cômica. Isso porque, na TV, dada a variedade de níveis de público, mas com a evidente predominância daquele menos sofisticado, os anúncios tem de ser mais diretos ou fantasiosos, absurdos mesmo, como os galãs, nos iates ou no velho Oeste, fumando os cigarros de tal marca, ou homens refinados, envergando trajes a rigor, a tomar uísque nacional.
Um grande cineasta - Alain Resnais - explicava há cerca de vinte anos que toda a história do cinema já estava delineada, desde o seu início, através das duas vertentes básicas: Lumiere e Mélies, ou seja, o documentário e a ficção. A TV, que é basicamente um filme continuado, no dia-após-dia, incorpora essas duas vertentes e forma a vida cultural do telespectador. Aliás, a palavra forma é a mais apropriada para o assunto. Não são os conteúdos pré-estabelecidos, mas sim o modo de fazer que gerá a principal informação. Só pela forma, pelo processo de estrutura chega-se à criatividade, ao novo.
Última Hora
20/09/1983