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Existem duas grandes formas de cultura...

Existem duas grandes formas de cultura - as principais deste século – forjadas pela segunda revolução industrial (era da automação e reprodutibilidade em massa): a propaganda e a televisão. Quando falamos em cultura - em contraposição à natureza - estamos procurando nos referir a tudo que o ser humano faz - desde a descoberta do primeiro instrumento. A dupla Clarke-Kubrick explicou isso muito bem naquela fabulosa elipse do filme 2001: Uma Odisséia no Espaço, quando o primata, depois de ter descoberto o osso, em função de arma de combate, atira-o para o ar e o mesmo osso se tramforma em nave espacial, ao tom do Danúbio Azul.
A história da reprodução da imagem, desde Daguerre, já deu também o pulo do osso. A tal ponto, que a pedagogia clássica, hoje, está em xeque. O aluno, muitas vezes, mesmo sem ir à escola, sabe mais ou mais funcionalmente do que o professor. Mesmo porque o assim denominado sistema regular de ensino é o verdadeiro Gabinete do Doutor Caligari. Enquanto atravessamos a era da televisão, estão brincando de ortografia.
Dois eventos recentes demonstram a força de cultura de massa proporcionada pela Tevê (ou a era do filme): a longa peregrinação do papa pelo nosso país e a final masculina de Wimbledon, de tênis, entre Bjorn Borg e John McEnroe.
No primeiro exemplo citado, está o papa João Paulo II falando e boa parte do planeta ouvindo, fixado pelas câmeras em detalhes de gestos intimistas. O seu carisma cristão ganhou novos alentos graças ao universo eletrônico. Todo mundo assistiu a sua figura de ser humano que nada mais tem a ver com boa parte dos chefes da Igreja de outrora. Era aceitar um chapéu de vaqueiro, no Piauí, e dizer que estava "mais grande" que sua cabeça. Era o beijo nas crianças, a confratemização com as criaturas humildes, a troca de cumprimentos com as autoridades. E todas as cores da televisão emoldurando seus pronunciamentos, sua voz cantante, as repetidas saudações. Enfim, assistir ao espetáculo das multidões em momvimento, em holocausto - pois as multidões são sempre um espetáculo, desde a revolução francesa, passando pelas de Eisenstein em
Outubro ou de Grifith, em Intolerância, até aquelas que comemoram, nos estádios, os gols de Pelé e Zico.
No caso do jogo Borg x McEnroe é rememorar a precisão da transmissão, os "closes" dos rostos nervosos, sofridos ou eufóricos dos dois tenistas. Notar as jogadas sensacionais, sob vários planos e, inclusive, com ''replay".
O telespectador, nesse ponto, ganha uma grande vantagem sobre a assistência que está em Wimbledon ou em qualquer outro local de competição desportivas. O público que paga (às vezes muito caro), a fim de assistir, participar "in loco" das disputas, está procurando a catarse, a emoção coletiva. É o mesmo exemplo de quem vai ao teatro, ver Bacine ou Nelson Rodrigues, ver os solistas vocais ou instrumentais, ou à ópera italiana com a sua facinante perspectiva do atletismo canoro.
Porém aquilo que Ernst Cassirer disse, em "substância e função", permanece lógico e claro - tão lógico e claro como o monolito do mencionado 2001 de Kubrick e Clarke. Saímos, neste século, de uma perspectiva mecânica, para a eletrodinâmica. De Newton, para Einstein. Como frisou Décio Pignatari: "a crise, do artesanato com a revolução industrial". Ou, como tudo já vira MacLuhan, apesar dos muxoxos da esquerda festiva: a aldeia global. Desta, não escaparemos jamais, a não ser num sólido refúgio de ignorância. Evidente que o univerao da leitura continua. Ninguém vai deixar de ler. Mas, o primado dessa manifetação de leitura - dessa "forma" - ruiu por terra.
Há muitos críticos e analistas de televisão que, em nosso modesto entender, pretendem tapar o sol com a velha peneira. Falam tanto em elitismo e são elitistas. Como os artistas e sociólogos "soi-disant" engajados, do Morumbi, Jardim América, etc, ou, no Rio, dos bares de Ipanema, Leblon, ou seja, um engajamento que é feito para engabelar editores, "marchands" ou grã-finos deslumbrados. Não querem ver que aquilo entendido como cultura reside no veículo. Este último não acaba. Discutir conteúdos é necessário, porém secundário, diante do problema beasico. Por causa dos conteúdos, o inferno das artes, da criatividade, já está lotado de boas intenções.
A visão elitista de cultura pensa que a tevê deveria exibir, o dia inteiro, Shakespeare ou o Ballet Bolshoi, ou Paulo Autran, recitando poemas de autores célebres. Cultura começa por ser o próprio meio - os aparelhos produtores e os aparelhos receptadores. Aí sim, pelo próprio sistema eletrodinâmico, formam-se as mentalidades. Por isso mesmo, os educadores utilizam também a tevê. O Mobral, por seu turno, já há longo tempo, apresenta um programa diário.
No Brasil, a tevê, como forma de expressão cultural, já obteve concretizações. É só lembrar a exportação de novelas para a Europa. Ou apenas lembrar a famigerada lei do impoluto sr. Falcão, que proibiu: campanhas eleitorais pelo vídeo. Porque é a era da comunicação. E o que é comunicação? Para nós, é a informação acrescida do veículo. A informação do jogo de tênis e da peregrinação do papa não seria a mesma sem o veículo tevê.

O Estado de São Paulo
10/07/1970

 
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