No último Chico Anysio Show continuamos naquele ritmo da permuta e reencontro de vários personagens formalizados por um homem só: lá estão Painho, Pantaleão, Profeta, Gastão, Salomé, Nicanor, Santelmo, Setembrino, Azambuja etc. Do velhinho ao travesti, do locutor ao vigarista, do político ao conselheiro.
Na maioria das situações delineadas numa oscilação entre uma aparente placidez e a velocidade dos acontecimentos, também se balança entre um pequeno e sóbrio universo de sátira e sutilezas e aquele outro dos efeitos caricatos. O Chico Anysio real, com a sua postura baseada na realidade, somente surge, dentro da habitualidade, contando piadas no Fantástico.
No último programa, a abertura se projeta através de um poço da juventude, onde os namorados de todas as idades se encontram e, no tradicional bafafá dos quiproquós, jogam suas moedinhas dentro d'água que, no desfecho, serão arrebatadas pelo nosso vigarista. Aí, já desfilam alguns dos personagens, os velhinhos entre as flores e sob o arremedo de quiosque, enquanto o namorado ingênuo brinca de esconder com a namorada que quer outras coisas...
Quanto ao Painho, no seu branco tradicional e com a corte de mulatas, recebe a visita de Clóvis Bornay, que desfia as plumas, enquanto, no desfecho do quadro, no meio do embróglio, surge Wilson Gray. Agnaldo Timóteo dá também o seu plá vocal e com a imagem parada, isto em outra cena.
O desafio dentro da modalidade de um programa dessa natureza é que exige-se o imenso esforço de um homem só. Com o tempo, é difícil manter o mesmo nível mediante o refrescar contínuo de um repertório de idéias, de uma galeria de personagens que, se caem no gosto do público, podem, no correr de semanas, tombar na cilada de repetições. É a fatal saturação. Que o cômico abra o olho e vigie seus personagens.
Última Hora
29/09/1983