A partir da ascensão de Emerson Fittipaldi, as corridas de Fórmula-I ganharam lugar certo nas transmissões da TV - principalmente porque ocupam quase sempre o horário matinal, menos competitivo. E também porque chegam-nos imagens com excelente nitidez e multiplicadas de tomadas com um bom aspecto funcional. Já se formou até um público, mesmo quando os pilotos brasileiros não possuem chance de figurar nos primeiros-lugares do campeonato mundial ao fim do ano.
Mas existe uma indagação e até mesmo uma polêmica sobre a monotonia ou não do espetáculo no vídeo. Com exceção dos entendidos e aficionados, poder-se-ia dizer que a repetição de situações, o tempo de espera, muitas vezes demorado, para ocorrer alteração nas primeiras colocações, levaria ao tédio. Mas não é isso que acontece; tanto assim que as transmissões se mantêm quando seria muito mais fácil, na hipótese de pouco público, trocá-las, a custo de banana, por aqueles incansáveis desenhos animados.
A verdade é que, além da disputa em si, há outras componentes de interesse. De início, o apelo da possibilidade de sensacionalismo, com a expectativa de algum acidente. Isso, quando ocorre, é a quebra de ritmo do espetáculo, vazado na repetição de carros a passar dezenas de vezes pelos mesmos lugares, aparentemente na mesma velocidade.
Outras duas componentes de excitação vêm sendo cada vez mais aprimoradas nas filmagens: as tentativas de ultrapassagem e a contagem de segundos perdidos nas paradas nos boxes. No mais, ainda resta a paisagem que decora vários circuitos, seja o verde de Brands Hatch ou o pitoresco dos cenários dentro de Mônaco, onde, além do mar, não faltam um túnel e uma curva de quase 360 graus.
Mas há pessoas que, frente ao vídeo, nem pedem nada disso. Ficam presas à monotonia da velocidade, capaz de ser hipnótica e também relaxante. Com a palavra os psicológos e comunicólogos.
Última Hora
03/10/1983